Cotidiano

Publicado: Segunda-feira, 8 de outubro de 2007

São Pedro não tem culpa do racionamento em Itu!

Leia entrevista exclusiva e saiba detalhes impressionantes!

Por Camila Bertolazzi

A questão da falta de água em Itu não é um problema recente e mesmo assim as soluções nunca foram encontradas. Ao contrário do que muitos pensam, a culpa não é de São Pedro e tem sim como ser resolvida.
 
O geógrafo ituano Murilo Rogério Rodrigues, licenciado e bacharelado pela Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), concedeu uma entrevista exclusiva para a equipe do site www.itu.com.br e afirmou ter encontrado a verdadeira causa do constante racionamento de água em Itu.
 
Pós-Graduado em Geografia Física, Climatologia e Hidrologia pela USP (Universidade de São Paulo), atualmente Murilo estuda como essa constante falta de água pode afetar a economia local e também é professor no Colégio Integral.
 
Itu.com.br - Você está à frente de uma das pesquisas mais polêmicas da cidade. Como surgiu a idéia de descobrir o verdadeiro problema da falta d’água em Itu?
Como sempre morei aqui, desde pequeno sofria com a falta de água na cidade, e para mim, nunca ficou claro a verdadeira causa desse problema; eu não acreditava simplesmente na hipótese de falta de chuva como sempre foi afirmado. No segundo ano da faculdade eu conversei com o professor especialista em climatologia, e me dediquei a esse trabalho por três anos, colhendo dados, fazendo levantamentos técnicos, desenhando mapas topográficos e hidrográficos, e em uma segunda etapa, fiz pesquisas para tentar entender o verdadeiro motivo da falta de água.
 
Itu.com.br - Quais foram as suas conclusões com as pesquisas?
Eu estudei aspectos históricos do município e descobri que o racionamento em Itu não é recente, os problemas com a falta de água começaram em meados de 1800. Os primeiros relatos sobre isso foram feitos em um livro escrito pelo historiador Francisco Nardy Filho, onde dizia que na época – uma vila pequena – já sofria com a falta de água e a partir daí, o problema se tornou constante. Estudei também a chuva em Itu, de 1967 a 1997, todos os meses e anos, comparando os milímetros de água em cada época. Através desse estudo climático, que foi a chave do meu trabalho, eu descobri que em 30 anos, o município teve apenas três anos considerados secos, ou seja, em três décadas, a justificativa de ter racionamento por falta de água só seria possível em três anos. No geral os anos não foram secos, pelo contrário, foram anos normais a tendentes a chuvosos.
 
Itu.com.br - Mesmo em anos chuvosos e com tendência a chuvoso houve racionamento?
Sim, em quase todos. Racionamento em Itu é uma coisa muito freqüente. Durante muitas décadas vem acontecendo em praticamente todos os anos, ele sempre abrange a época de seca – julho, agosto, setembro, até começar a chover.
 
Itu.com.br - Por que esse ano o racionamento começou só agora (final de setembro)?
Praticamente nenhuma cidade está passando por racionamento. A quantidade de chuva que caiu esse anos é suficiente para suprir as necessidades da população até que começasse a chover novamente; eu, como especialista da área, não imaginei que fossemos ter falta de água, porque realmente choveu muito. A região estudada na minha pesquisa – 15 cidades em um raio de 50Km de Itu - tem um índice pluviométrico 100ml menor que outras regiões do estado, porque nós estamos em uma área de sombra, mas esse fator não é exclusivo de Itu; Salto, Indaiatuba e Campinas, também fazem parte dessa região de sombra, isso quer dizer que o que chove aqui é semelhante ao que chove nas cidades da região, mas elas, ao contrário de Itu, não estão passando por problemas de racionamento, podendo concluir que a falta de água não está ligado apenas a diminuição da chuva.
 
Itu.com.br - Mas a quantidade populacional de cada cidade não interfere nesse problema?
A população local praticamente triplicou nesses 30 anos estudados, e é claro, com isso a demanda também aumentou. Como o serviço de água já era precário, o problema se agravou ainda mais. O que eu descobri de mais estranho foi sobre a captação de água por habitante. Uma cidade considerada “normal” capta 190L por habitante/dia. Itu capta 487L por habitante/dia. Teoricamente isso é muito bom, mas muito curioso: como Itu capta mais que o dobro de água por dia que as cidades vizinhas e mesmo assim essa quantidade não é suficiente para suprir as necessidades da população?
 
Itu.com.br - Mas toda a água captada é consumida?
Essa é a grande questão que causa a falta de água em Itu. Por volta de 55% da água captada é perdida durante o transporte da zona de captação até a zona de tratamento, e de lá até as casas. A água passa por filtros e registros, a maioria deles velhos que mais perdem água do que filtram. O material utilizado na distribuição também é antigo. A primeira rede de distribuição de água da cidade foi feita em 1905 na área central, e desde então, nunca foi trocada, ou seja, temos canos com mais de 100 anos.
No final do meu trabalho, em 2003, eu pude concluir que a falta de água em Itu não está relacionada apenas com a falta de chuva, mas também com o desperdício.
 
Itu.com.br - Os canos velhos podem prejudicar a qualidade da água?
Podem prejudicar sim, mas no momento esse não é o maior problema. A falta de água é um problema tão crônico que a população nem está pensando na qualidade dela quando consumida. Há ferrugens e microorganismos que podem entrar pela tubulação velha.
 
Comentários