Publicado: Quinta-feira, 24 de abril de 2008
Ismar Ferrari explica por que falta água em Itu
Camila BertolazziA Condição da disponibilidade da água acompanha a cidade de Itu desde a sua fundação. Instalada no espigão e próxima à confluência dos ribeirões Taboão (à direita) e o Brochado, a localização da cidade reflete a busca de fontes para o atendimento as necessidades hídricas dos primeiros habitantes e dos seus animais. Guardava-se, no caso, distância segura de uma légua do salto do Itu, no rio Tietê, dominado pela população indígena.
A região situada no contato do planalto com a bacia sedimentar oferecia aos exploradores do território paulista, riqueza de águas e, em etapas mais avançadas da história regional, a energia hidráulica necessária para a movimentação das rodas d’água dos engenhos de açúcar, fator de riqueza nos séculos XVIII e XIX e finalmente, desde o início do século XX, a energia hidrelétrica para o dispor forças para o parque industrial pioneiro na então Província de São Paulo.
Com a retomada do desenvolvimento urbano observado nas últimas décadas do século XX, o sistema concebido na passagem dos séculos XIX e XX, que teve como partida uma proposta na Câmara de Itu do compositor Tristão Mariano da Costa, ficou exposto a descompassos entre o crescimento da população de Itu e a disponibilidade de águas para o consumo domiciliar e industrial.
O fato é que, contando com uma população atual da ordem de 150.000 habitantes e 45.000 ligações (consideradas aquelas destinadas ao uso domiciliar, comercial e industrial), a capacidade da produção de águas atualmente na nossa cidade alcança cerca de 630 L/s (380 L/hab.dia), vazão que chega a cair para menos da metade no período da estiagem, ou seja, cerca de 300 L/s (175 L/hab.dia) nos meses de agosto a outubro.
Solução do problema no curto prazo
A falta de água no período das secas somente ocorre em Itu porque os cursos d’água são explorados atualmente pela modalidade “a fio d’água”, ou seja: o sistema de abastecimento atual não conta com reservatórios suficientes para acumular águas que precipitam nos períodos chuvosos, por que faltam as barragens necessárias para represamento dos cursos d’água. Com a escassez de chuvas nos períodos das estiagens, os mananciais praticamente secam e não conseguem liberar as vazões necessárias para o consumo da população.
Outro fato que agrava este problema é o elevado consumo per capita de água em Itu, equivalente a 380 L/hab.dia. De fato, as vazões médias de consumo, conforme se observa em cidades de porte semelhante, deveria ser da ordem de 180 l/hab.ano, o que parece refletir possíveis perdas de águas no manejo e na distribuição pelos encanamentos antigos.
Itu dispõe atualmente de mananciais que são aproveitados para abastecimento hídrico nos córregos do Gomes e São José (numa região de nascente), bem como nos ribeirões Braiaiá, Pirapitingui e Itaim. Para fazer frente à falta de água no curto prazo, a solução passa pela execução de obras de regularização das vazões dos cursos d’água, bem como pela captação de águas em novos mananciais existentes em locais mais distantes da área urbana. É neste sentido, que os órgãos responsáveis pelo abastecimento de águas planejam a construção de uma barragem no ribeirão Braiaiá (150 L/s), além de obras para ampliação do córrego São José (100 L/s). Outra medida de grande interesse será a instalação de um sistema para captação de águas no ribeirão Piragibu (área da bacia hidrográfica da ordem de 300km²) que serve de divisa entre Itu e Sorocaba. A exploração “a fio d’água” (portanto, sem regularização) obrigará a transposição das águas para a bacia do Tietê, de modo que permitirá um acréscimo de 200 L/s ao abastecimento da região dos bairros do Pirapitingui e Cidade Nova.
Existe ainda a possibilidade de alteamento da barragem do ribeirão Itaim-Guaçu, o que permitiria criar reservatório de acumulação de águas para o período chuvoso com a regularização da vazão de 270 L/s, que não está sendo considerado no momento.
Solução dos problemas no longo prazo
As obras acima mencionadas permitiriam corrigir o déficit atual no abastecimento de águas, porém elas não são suficientes para resolver os problemas de aumento do consumo que deverá ocorrer nos próximos anos, em razão do inevitável aumento da população.
A solução definitiva para o abastecimento das águas somente será possível com a exploração de mananciais de grande capacidade, localizados a maior distância, como é o do caso do aproveitamento do rio Piray, que apresenta uma área de bacia hidrográfica da ordem de 120 km². Neste caso, as obras exigirão barragens de grande porte, estruturas de concreto armado para Vertedouro, Tomada d’Água, equipamentos para captação e bombeamento, bem como extensas tubulações adutoras das águas, exigindo investimentos financeiros elevados.
Além do mais o rio Piray é um manancial, cuja exploração interessa, além de Itu, também a outras cidades da região: Salto, Indaiatuba e Cabreúva, as quais igualmente sofrem com a falta de águas. Por estes motivos a exploração deste rio somente será viabilizada de forma racional e econômica, mediante planejamento integrado e pela formação de consórcio de municípios, com a participação das quatro cidades.
Porém, neste caso deverão merecer a atenção os aspectos da questão ambiental da preservação do rio Piray, uma vez que está localizado em uma região que mostra rápida expansão urbana e industrial, sobretudo na
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