Opinião

Publicado: Quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cristina Tasca: "Informação, um direito de todos"

Crédito: Arquivo Pessoal Cristina Tasca: "Informação, um direito de todos"
"Cabe às bibliotecas públicas fornecer a informação utilitária ao cidadão, garantir a educação continuada, estimular a cultura e promover o lazer"
Tive receio de escrever sobre o assunto que mais me fascina: “Bibliotecas Públicas”, essas mesmas, tão distantes e desconhecidas de seu público, o cidadão.
 
Um dos desafios de maior interesse para nós bibliotecários é a responsabilidade social de transmissão do conhecimento para aqueles que dele necessitam. Compromisso que deveria fazer parte da rotina diária das bibliotecas públicas de todos os municípios brasileiros. Já é sabido que países desenvolvidos têm a informação como insumo básico para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social. Em contrapartida, países incapazes de criar sistemas informacionais adequados às variadas demandas, estarão fadados a utilizar informações por vezes, distorcidas e comprometidas com interesses não éticos, acentuando o estado de dependência e a perda de autonomia.
 
Do ponto de vista social, a construção da cidadania passa pelo conhecimento dos direitos e deveres de cada cidadão, o que permite tomar decisões conscientes, tanto individual como coletivamente. Munir os cidadãos de informação utilitária significa democratizar os serviços públicos e as possibilidades de participação ativa, nas decisões da comunidade.
 
Para ser mais específica, informação utilitária é aquela que garante a satisfação das necessidades básicas de alimentação, habitação, vestuário, saúde, educação; que representam a segurança de viver em um determinado espaço. Somente satisfeito em suas necessidades informacionais básicas, o indivíduo estará motivado a buscar outros conhecimentos que vão apoiá-lo nas suas relações com os grupos sociais a que deseja pertencer: a igreja, o trabalho, etc. e, finalmente, garantir sua reflexão, criatividade e realização plena de seu potencial.
 
Cabe às bibliotecas públicas fornecer a informação utilitária ao cidadão, garantir a educação continuada, estimular a cultura e promover o lazer. Entretanto, há um desvio de suas funções, um desconhecimento de seus reais objetivos, tanto pelo poder público, como pela sociedade em geral. Simplificando, não há bibliotecas públicas suficientes, as que existem, cumprem a tarefa inglória de atender às centenas de estudantes das escolas públicas, também órfãos de suas bibliotecas escolares. No universo das bibliotecas públicas, o crescente baixo status dos profissionais e dificuldades de recursos humanos, financeiros e de infra-estrutura, resultam em uma prestação de serviços que, muitas vezes, se resume a meras rotinas burocráticas. Certamente tais premissas determinaram a péssima imagem de grande parte das bibliotecas públicas e a percepção equivocada de seus reais compromissos pela população.
 
Talvez, esse comentário, sem grandes pretensões, possa sensibilizar o poder público local, para a necessidade de melhora dos serviços públicos de informação, ou ainda, a comunidade em geral que, quiçá um dia, poderá reivindicar novas e melhores bibliotecas.
 
Finalizamos lembrando que, à medida que as bibliotecas públicas se vincularem adequadamente à comunidade, passarão a ser o caminho que possibilitará a participação efetiva dos cidadãos nos destinos do município. Isso é fundamental em um país onde a desinformação atinge proporções alarmantes e, dessa forma, a comunidade terá oportunidade de conhecer e assegurar minimamente seus direitos. Fica aqui, um convite à reflexão, há que se pensar na importância da informação para todos; afinal, a quem interessa a discussão ou o esquecimento deste assunto?
 
Maria Cristina Monteiro Tasca é mestre em Ciência da Informação pela PUCCAMP. Possui Graduação em Letras pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio e graduação em Biblioteconomia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. É especialista em Administração de Sistemas de informação (USP) e Organização de Arquivos (UNICAMP). Atualmente é docente do Instituto Manchester de Ensino Superior e bibliotecária da Universidade de São Paulo, em Itu. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Administração de Sistemas de Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: bibliotecas especializadas e particulares, administração de serviços de referência e normalização documentária.
Comentários