Cultura

Publicado: Sexta-feira, 20 de junho de 2008

A saga da Família Maeda - do Japão para Itu

Uma história de vida que tem muito para ensinar!

Crédito: Deborah Dubner/Itu.com.br A saga da Família Maeda - do Japão para Itu
Shigueharu Maeda e sua esposa, Midori Maeda
Por Deborah Dubner
O nome Maeda é muito respeitado e conhecido não apenas em Itu, mas em toda a região. Nos últimos 10 anos, porém, esse nome ficou ainda mais difundido, em função do Parque Maeda, um extraordinário complexo que inclui pesca, lazer, gastronomia, hospedagem e dedicação em todos os detalhes.

O que poucos sabem, é como a história da família Maeda começou, até chegar aos dias atuais. E é isso que eu vou contar. Ouvindo histórias reais, aprendemos sobre o que significa realmente viver.


Infância atribulada – a semente


Shigueharu Maeda fez 90 anos em março deste ano. Quando tinha 10 anos de idade, saiu do Japão com sua família em direção ao Brasil, seguindo o sonho da prosperidade. Nunca mais voltou. “Naquela época tudo era demorado. Saímos de navio no dia 24 de dezembro e chegamos em 14 de fevereiro, no ano de 1928. Já faz 80 anos que estou no Brasil”, conta o patriarca.

A família chegou em uma cidade perto de Ourinhos, na fazenda Cunha Bueno, que existe até hoje com esse nome e é cuidada pelo neto. “Hoje eles plantam cana-de-açúcar, mas naquele tempo a gente plantava café”, relembra Maeda, que com seu quase um século de vida é dono de uma memória invejável.

Shigueharu conta que as famílias vinham do Japão com contrato estabelecido e não podiam mudar. Na primeira fazenda, o contrato era de 2 anos. Quando venceu, o destino da família foi uma fazenda em Paraguaçu Paulista, onde plantaram café. “Teria sido muito bom, mas veio a geada e o preço do café baixou muito, aí o patrão quis aumentar o contrato para mais dois anos, então acabamos ficando nessa fazenda por 6 anos. Meu pai e o meu tio ganhavam por cova plantada, mas o pagamento era feito no final da safra. Com a geada, o patrão não quis pagar, mas minha família conseguiu reclamar e receber o que era de direito. Então, com o dinheiro, minha família comprou 20 alqueires perto de Paraguaçu Paulista”.

Foi a primeira vez que a família Maeda teve no Brasil sua própria terra. O ano era 1935 e eles começaram a plantar algodão. “Naquele tempo todos os japoneses plantavam algodão - relembra Shigueharu – O café tem que esperar 4 anos, ninguém agüenta! O algodão, depois de 3 ou 4 meses já dá!”. Foram tempos de muito trabalho, envolvendo garra e esforço de toda a família. Depois, a terra começou a ficar imprópria para o plantio, com muito mato, e a família novamente se mudou para um terreno próximo, com 10 alqueires, só que dessa vez arrendado. “Tivemos que preparar a terra, derrubando mato, depois tocando fogo, para só então plantar mais algodão”, conta Maeda.


Maturidade e casamento – a árvore


Com 30 anos de idade, Shigueharu Maeda casou-se com Midori, que na época tinha 26. “Eu casei tarde, não sabia namorar, só sabia trabalhar, não tinha tempo pra mais nada”, conta o patriarca com um sorriso no rosto, mostrando alegria e vitalidade. Naquela época, o plantio de hortelã estava em alta e a família comprou um sitio para cultivar essa planta, que estava rendendo muito dinheiro. No entanto, o preço baixou drasticamente e novamente, a família Maeda perdeu todo o dinheiro que havia emprestado do Banco do Brasil. “Justo no ano em que eu casei”, conta Shigueharu.

Mas a palavra “desistir” nunca fez parte dessa família, que representa muito bem a determinação do povo japonês. Lá se foram para o Paraná, na cidade de Santo Antonio de Platina, onde iniciaram a plantação de todo tipo de verduras. “Eu ia na cidade com o meu primo, vendia com o carrinho alface, couve-flor, repolho e outras verduras”, conta Maeda. Foi durante este período que nasceu sua filha, a primeira de 7 filhos, nascidos a cada dois anos. Nesta fazenda o casal, junto com pai, mãe, irmãos e outros familiares, ficaram durante dois anos.

O destino seguinte foi Dourados, uma pequena cidade próxima, também no Paraná. Nesta fazenda, cujo patrão era japonês, o trabalho era com plantio de algodão e durou também dois anos. “A cada 2 anos eu ganhava um filho e mudava de lugar”, relembra Shigueharu. Foi nesse local que nasceu o segundo filho, André Maeda, que está à frente do Pesqueiro e Pousada Maeda, muito conhecida hoje em dia.

Em tempos difíceis nasceu a terceira filha, na cidade de Rio Cinza, perto de Dourados. A família arrendou por conta uma terra e plantou algodão. “Não era uma terra boa – conta Maeda - tinha tatu e cobra”. Após dois anos, com a esposa grávida do quarto filho, a família se mudou novamente. A convite do cunhado, que trabalhava no Banco América do Sul e tinha uma fazenda, lá se foram novamente tentar a vida, dessa vez em Diamante do Norte. Midori Maeda, por estar grávida, ficou com seus pais até nascer o bebê. Depois do nascimento, o marido foi buscá-la e levou-os para a nova terra, em precárias condições. “Fiz uma casa muito simples, só para dormir”, conta Maeda. Nesta fazenda, onde plantavam café e planejavam ficar mais tempo, acabaram ficando apenas dois anos, pois as dificuldades e imprevistos continuaram. As terras do cunhado, que haviam sido pagas diretamente ao corretor, foram perdidas. O dono do terreno não recebeu o dinheiro do corretor e exigiu a fazenda de volta. “Meu cunhado não era fábrica de dinheiro e perdeu tudo”, conta Shigueharu.

Em sistema de parceria (50% do lucro da safra para o dono e 50% para quem plantou) a família mudou-se para Arapongas, onde plantou café e morou por 6 anos. Lá nasceram mais 3 filhos, totalizando sete crianças, no período de 14 anos no Paraná. Em Arapongas, a família morava na Colônia Esperança que, embora católica, era formada em sua maioria por japoneses. “A professora era freira e todo domingo tinha missa. Se a criançada não ia na missa, marcava pontos na caderneta”, lembra Maeda. Nessa época, os pais de Shigueharu vieram morar em Itu. Mas para ele, que continuou em Arapongas com sua esposa e 7 filhos, foram anos bons.

Em 1963, um amigo da família que morava em Elias Fausto e plantava tomate, mandou uma carta convidando Shigueharu para morar e trabalhar na fazenda. Ele aceitou a oferta e partiu novamente com a família. “Foi a maior sorte - conta Maeda - Apesar de terem sido anos bons na colônia, depois que a gente saiu, ficou tudo muito ruim.

> Conheça mais sobre o Parque Maeda.

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