Publicado: Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Valéria Rusticci alerta: perigo, usinas a vista!
Camila BertolazziHá um ano o município de Itu promoveu o Mega Plantio no qual participaram cerca de 10 mil pessoas que ativamente plantaram 30.550 mudas. Todos unidos num só pensamento: melhorar as condições ambientais do lugar em que vivemos.
Mas até onde queremos contribuir com o meio ambiente e com causas coletivas? Certamente muitos dirão até que não me prejudique, então reflito: desde quando questões individuais ou de um setor da sociedade pode se sobressaltar as causas coletivas? Do jeito que presenciamos nos últimos séculos infelizmente, sempre.
Os córregos urbanos que foram objeto do mega plantio é um reflexo disso. Há muito tempo eles tinham florestas em suas margens (matas ciliares) as quais são importantes para a manutenção da qualidade e quantidade de água, mas o desenfreado crescimento urbano, e as atividades pastoris e agrícolas foram as causas de sua dizimação.
Mas o fato é que na época seu desfloramento foi permitido em nome do desenvolvimento urbano, das áreas maiores de pastagens, aumento do número de gados, desprezo pelos córregos que não são mananciais de abastecimento público e muitos outros motivos.
As consequências vivenciamos a cada dia: inundação, córregos assoreados, tubulados, impermeabilizados, fétidos e sem vida.
Houve tempos que as obras viárias eram compatíveis aos leitos dos rios, as várzeas eram ideais para este tipo de obra, logo notou-se que os benefícios eram imensamente menores que os impactos ambientais gerados e suas consequências eram desastrosas.
Novamente os rios e seus leitos voltam aos noticiários agora com nova roupagem, as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) intituladas como usinas “menos impactantes”. Elas se pulverizam pelos quatro cantos do país.
O que não se leva em conta é: onde estão estes potenciais hidroenergéticos? O impacto ambiental é compensado pela energia gerada? A sociedade local foi consultada? Existem fragmentos de matas nativas ciliares? A quem interessa a obra?
Itu e Cabreúva: perigo!
Contextualizando para nossa cidade façamos uma reflexão sobre os projetos das PCHs do Rio Tietê nos município de Itu e Cabreúva. Localizam-se em áreas de preservação ambiental municipal e estadual, inundarão 110 hectares de matas ciliares primárias que contém espécies em vias de extinção como Jequitibás e Perobas. Isso representa dez campos de futebol inundados, deixando submersos grutas e rochas não encontradas em nenhum outro lugar do planeta, sem falar da questão do projeto de despoluição do Tietê que caminha para sua terceira fase, o qual necessita das corredeiras deste trecho para ganhar oxigênio: as corredeiras “utu-guaçu”, únicas do Tietê que ajudam a reviver o rio alguns quilômetros dali.
Isso sem falar dos aspectos culturais, religiosos e históricos que estão presentes nesta região da Estrada Parque de Itu, também conhecida como caminho dos bandeirantes, rota do café, rota das riquezas dos garimpos de mato grosso, estrada dos romeiros, dentre tantos outros atributos.
Portanto é hora de agir com coerência e sensatez e conclamar a sociedade da região para combater essa insanidade, para que depois amanhã não tenhamos que promover mega plantios para restaurar o que deixamos destruir.
Valéria Miguel Rusticci é ambientalista, bióloga, atua na Fundação SOS Mata Atlântica, coordenadora do Centro de Educação Ambiental da Estrada Parque de Itu, fundadora da COMAREI – Cooperativa de Materiais Recicláveis de Itu e coordenadora da Câmara Técnica de Educação Ambiental do Comitê dos Rios Sorocaba e Médio Tietê.
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