Publicado: Terça-feira, 20 de julho de 2004
Restauração de partituras de músicos ituanos
O Maestro Luís Roberto de Francisco, regente do Coral Vozes de Itu, conta em entrevista sobre o trabalho de restauração das partituras dos músicos ituanos, mostrando a importância disso para a memória da cidade. É um árduo trabalho de preservação dos bens culturais, cujo objetivo é melhorar as relações sociais e ampliar as perspectivas de futuro pa
Deborah DubnerMuito tem se falado sobre a importância da preservação dos bens culturais como forma de melhorar as relações sociais e ampliar as perspectivas de futuro para o país. A Associação Cultural Vozes de Itu tem investido recursos próprios, provenientes da contribuição de seus associados para recuperar as obras dos compositores ituanos e apresentá-las ao público em seus concertos e eventos.
Luís Roberto de Francisco, regente do Coral Vozes de Itu, está há mais de dez anos envolvido com esse trabalho e já restaurou diversas peças importantes. Nesta entrevista, o Maestro Luís Roberto de Francisco explica como é esse processo de recuperação e qual a importância dele para a cidade.
Luís Roberto de Francisco, regente do Coral Vozes de Itu, está há mais de dez anos envolvido com esse trabalho e já restaurou diversas peças importantes. Nesta entrevista, o Maestro Luís Roberto de Francisco explica como é esse processo de recuperação e qual a importância dele para a cidade.
1. Por que e para que restaurar partituras antigas?
As partituras são documentos de uma época, como qualquer documento textual. Elas têm uma linguagem, um código escrito, que é o que deve ser executado pelos músicos. Diferente da pintura, por exemplo, a música anterior ao século XIX, não podia ser exibida sem a execução em um instrumento porque não havia gravações. Portanto tudo aquilo que restauramos é a revelação de um código. Após a cópia revela-se o que o compositor registrou. Até então é um enigma no papel.
De outra parte, existe uma importância singular na restauração das partituras, em primeiro lugar porque fazem parte de um patrimônio da cultura ituana. Então contribuem para enriquecer os laços da sociedade local com sua própria identidade. Mas também são significativas para a História da música brasileira, já que temos duas gerações de compositores extremamente expressivas, uma na passagem do século XVIII para o XIX, com destaque para o Pe. Jesuíno do Monte Carmelo e a outra na segunda metade do século XIX, com Elias Lobo e os Mariano da Costa (Tristão e José).
2. Como o Coral Vozes de Itu se interessou por esse projeto?
Por muitos anos ficaram esquecidas, em Itu, obras escritas por Elias Lobo. Em contato com o sr. Eliseu Belculfiné, antigo músico da Banda União dos Artistas, encontramos a partitura original de Elias Lobo, escrita em 1867, para a cerimônia das Sete Palavras ou Três Horas de Agonia. Restauramos e a apresentamos na Semana Santa de 1995. Foi um sucesso, pois os que estiveram presentes ficaram encantados com o que ouviram da obra inédita e se identificaram com a composição. Desde então A Associação Cultural Vozes de Itu tem patrocinado a recuperação dessas obras – sacras e profanas – e permitido a sua execução seja em concerto ou dentro das cerimônias, como o Ofício de Trevas.
3. Quantas partituras já foram restauradas? Quais as mais importantes?
Cerca de duas dezenas de composições já foram reescritas e apresentadas pelo Coral Vozes de Itu. As mais significativas são as obras grandes, como as Matinas de 4ª Feira Santa de Tristão Mariano da Costa, para o Ofício de Trevas, as Sete Palavras, de Elias Lobo e os trechos da ópera “A Noite de São João”, sempre de Elias Lobo.
4. Quais as etapas desse processo? Quem participou?
Desde a gestão da Profa. Maria de Lourdes Sioli como Secretária de Cultura de Itu temos trabalhado na recuperação das obras dos compositores de Itu. Em 1992 uma equipe composta pelo Prof. Marcos Júlio Sergl e pelos músicos ituanos Carmen Selma Santoro, Evandro Correia e eu, restaurou a Missa nº 4, de Tristão Mariano e outras obras pequenas.
A partir de 1995 Evandro, que hoje é monge beneditino em Roma e estará celebrando sua primeira missa cantada em Itu, em 14 de agosto, Vinícius Gavioli e eu temos recuperado muitas obras, sempre apresentadas pelas “Vozes de Itu”. Às vezes há detalhes que precisam ser discutidos, alguma nota que ficou registrada errada, na pressa da cópia do autor, ou ainda uma marca do tempo que não permite a decodificação exata da partitura.
5. Como esse trabalho repercute na comunidade e no próprio Coral?
A comunidade ituana se sente protegida, enobrecida, valorizada quando tem a oportunidade de ouvir aquilo que seus pais, avós e bisavós ouviam, o que os emocionava, o que os enlevava, o que ajudava a sua meditação e ligação com o sagrado e com a cultura em geral. Quando a recuperação e a interpretação se fazem pelas “Vozes de Itu” então o envolvimento é maior ainda. Só temos encontrado apoio na cidade.
Para os cantores é uma honra poder recriar essas obras, torna seu trabalho e sua dedicação mais significativos ainda.
Leia mais: www.vozesdeitu.com.br
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