Homenagem de Piunti para Amador Ferreira Gandra Filho
Guilherme MartinsA manhã fria se vestiu de luto. Um pouco mais e uma chuva miúda ensaiou um tímido pranto.
Muito compreensível. Amador Ferreira Gandra Filho se despedira do mundo. Mas a sua lição de amor e amizade logo sugeriu que o momento não comportava tristeza, pois ele sempre fora uma figura alegre, jovial e carinhosa.
Então a tarde expulsou as nuvens escuras. E um inverno ameno abençoou a caminhada dos familiares e amigos no trajeto silencioso até a floresta dos homens.
Itu perdeu mais um pedaço de sua história viva. Ao lado de Francisco Flaviano de Almeida, o inesquecível Simplício, nosso amado Zico se foi, deixando um rastro de saudade.
Ambos, Zico e Simplício, ofereceram a Itu o melhor dos seus corações. Na arte do riso e na exuberância de sua arte, um e outro homenagearam esta Terra.
Não seria justo recordarmos do mestre Zico Gandra apenas como “o homem que fazia o Judas da praça”.
Zico era, antes de tudo, um artista. Fazia cavalinhos de madeira, brinquedos artesanais de diversos tipos e formatos, além de bonecos coloridos. E, naturalmente, as figuras recheadas de bombas, imagens características que deram vigor ao nosso folclore.
A fabricação do legendário Tatu, encomendado por Galileu Bicudo, insere-se como peça rara na galeria dos seus inventos.
Zico era também um contador de histórias. Cultivava o imaginário, produzindo contos e lendas, na mistura de um pouco do que escutara dos antigos e muito do que nascia de sua própria lavra.
Ele viveu todo o seu tempo. E nos pareceu tão pouco. Gente assim é lenitivo para a vida, faz bem ao espírito.
Com seu jeito de menino, no rosto risonho feito espelho da alma, o nosso Zico será perenemente lembrado com doçura e carinho. Um homem bom! Alma de presépio!
Lázaro Piunti – 10/06/2010