Cotidiano

Publicado: Sábado, 10 de julho de 2010

9 de julho: Memórias de um revolucionário

A Revolução de 32 contada de um outro ponto de vista.

Por Camila Bertolazzi

“Nós não sabíamos o que era um fuzil. Nós não sabíamos o que era fila, marcha, para frente, para trás, meia volta. Nós não sabíamos nada disso. Mesmo assim o movimento foi fantástico. Era tudo por São Paulo”, afirma José Sampaio Pereira Mendes, único sobrevivente ituano da Revolução Constitucionalista de 1932. 
 
Com um caminhão, seu Zito, como é conhecido, percorreu as fazendas de Itu a procura de jovens revolucionários que lutassem contra a ditadura instaurada por Getúlio Vargas no “Governo Provisório”. Conheça os principais motivos que fizeram explodir a revolta, entre eles a morte do MMDC! Com o espírito de luta, mas sem saber ao certo por que estavam lutando, 300 jovens ituanos se uniram e formaram o 3º Batalhão de Caçadores Voluntários Paulistas.
 
Além do fim do Governo Provisório, o movimento armado de 32 reivindicava a nomeação de um novo presidente da república, a autonomia estadual e, principalmente, outra constitucionalização para o país. Distante dos problemas políticos, homens, mulheres e crianças vibraram pelo Estado e em coro gritavam “Por São Paulo farei tudo; ouro para São Paulo”.

Em Itu, as tropas voluntárias se reuniram em três casarões onde atualmente funcionam o Espaço Cultural Almeida Júnior, a escola Regente Feijó, e a Casa do Barão, que na época pertencia ao deputado Lelico Sampaio. Nessas concentrações, os poucos oficiais que tinham instruções militares, passavam-nas para os jovens sonhadores.
 
Mesmo sem experiência, os ituanos partiram para a “guerra”. Antes de embarcarem no trem de carga para Sorocaba, eles desfilaram nas principais ruas da cidade. “Durante o desfile, moças bonitas jogavam flores para gente”, lembra seu Zito. De Sorocaba partiram para Itapetininga, também de trem, e depois para Capão Bonito, na carroceria de caminhões. Lá permaneceram até o dia 02 de outubro, quando oficialmente os paulistas se renderam. Sem armas, sem munição e sem o apoio de outros Estados, São Paulo foi obrigado a render-se às forças de Vargas.

Os números da Revolução


Durante três meses, aproximadamente 35 mil paulistas lutaram incansavelmente. O fator fundamental da força dos constitucionalistas estava no apoio da população. Cerca de 60% do exército era formado por voluntários. Entre eles, estavam os escritores Monteiro Lobato e Mário de Andrade, que fizeram campanhas a favor dos revolucionários em rádios de São Paulo. Já no exército adversário, boa parte era composta por mercenários pagos.
 
“Infelizmente só com boa vontade não se faz revolução”, afirma o ituano. A precariedade era tamanha que seu Zito, mesmo sem nenhum preparo tornou-se Chefe da Sessão de Metralhadoras. “Na falta de alguém experiente, eu fui o escolhido”. Seu Zito também conta que um italiano se apresentou para trabalhar como barbeiro, mas logo que chegou lhe deram um fuzil.
 
Para o revolucionário, o pior foram as más condições pelas quais eles tinham que passar. “Nós fomos maltratados pela chuva, pelo sol e pela péssima comida”. E completa: “Tudo era improvisado”. Apesar de todos os problemas, seu Zito garante que não sentiu medo. “O medo existe quando não se tem motivação, e nós tínhamos uma motivação muito grande, queríamos ver São Paulo brilhar novamente”, conta o ituano.
 
De acordo com os números oficiais, 634 pessoas morreram e outras 1273 ficaram feridas, porém, estima-se que esse número seja ainda maior. A quantidade de mortos é seguramente superior que as perdas brasileiras durante a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Segundo seu Zito, apenas três homens do grupo de voluntários de Itu morreram, mas vários ficaram feridos ou foram presos.
 
Considerada um marco da história republicana, a Revolução de 32 não foi um movimento de elite, mas sim, a maior mobilização popular já ocorrida na história do país. Muitos, até mesmo as pessoas mais simples, se comoviam com a causa e doavam seus objetos de valor para financiar a guerra; em troca elas recebiam um anel de ferro simbolizando a participação na campanha “Dei Ouro Para o Bem de São Paulo”.
 
Além de doarem suas jóias, as mulheres também tiveram outros papéis fundamentais. Eram elas que faziam e consertavam os uniformes, e cozinhavam para um batalhão de homens. Muitas delas também trabalharam nas enfermarias espalhadas por todo Estado.

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi o maior confronto militar no Brasil no século XX. Apesar da derrota paulista em sua luta por uma constituição, a revolução conquistou seus objetivos. Dois anos depois, em 1934, uma assembleia eleita pelo povo promulgou a nova Carta Magna.

Em 1997, o então governador Mário Covas decretou que 9 de julho seria feriado estadual em comemoração a Revolução de 32, baseado na Lei federal nº. 9.93/95, que autoriza cada Estado a adotar uma "data magna", ou seja, uma data importante para sua história. Leia o Hino feito em homenagem ao Soldado Constitucionalista de 32!
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