Publicado: Quinta-feira, 19 de junho de 2008
Entre a fé e o pecado
Gays falam das dificuldades em conciliar Deus e sexualidade.
Camila Bertolazzi
Por Camila Bertolazzi
"Não me descobri gay, eu nasci gay", diz o estudante Alan Leite de 21 anos. Ele contraria a opinião dos que acreditam que a opção sexual é uma escolha, e afirma que desde os 5 anos já se sentia atraído por homens. Apesar de ter certeza sobre sua homossexualidade, o paulistano se assumiu há apenas três anos, mesmo assim confessa que ainda reprime seus sentimentos por medo da sociedade e da própria família.
"Não me descobri gay, eu nasci gay", diz o estudante Alan Leite de 21 anos. Ele contraria a opinião dos que acreditam que a opção sexual é uma escolha, e afirma que desde os 5 anos já se sentia atraído por homens. Apesar de ter certeza sobre sua homossexualidade, o paulistano se assumiu há apenas três anos, mesmo assim confessa que ainda reprime seus sentimentos por medo da sociedade e da própria família.
Como Alan, o travesti Walkiria Toyama (nome fictício) também esconde seus sentimentos por vergonha e falta de coragem para assumi-los. "Na minha família todos acham que sou homem, mas quando estou produzida como mulher faço de tudo para parecer feminina, a ponto de nunca terem desconfiado".
Os dois jovens fazem parte de um grupo, cada vez mais restrito, de gays religiosos que tentam conciliar a fé e a sexualidade. Segundo o advogado Célio Fernandes Oliveira, Deus não escolhe pessoas e nem busca estereotipo, mas sim verdadeiros adoradores do Senhor que procuram a sua palavra e a levam para aqueles que estão carentes de amor, compreensão e força espiritual. "O fato de eu ser gay não impede que eu seja um adorador de Deus e trabalhe em sua obra, o que é relevante é o meu agir e pensar, o meu coração puro e aberto às coisas de Deus", salienta Oliveira, que freqüenta uma igreja GLS denominada Igreja Evangélica Para Todos. Lá, segundo ele, 99% dos fiéis são gays. "Na minha igreja nós não passamos por nenhum tipo de constrangimento, é um lugar inclusivo". O advogado também afirma que frequentemente eles recebem visitas de heteros, inclusive familiares dos membros.
Já Walkiria afirma que ainda não encontrou religiões que sejam livres do preconceito. "Já freqüentei várias igrejas, mas em nenhuma tive coragem de assumir quem realmente sou". E completa: "Se a doutrina da igreja não condiz com o que eu penso, eu saio e procuro outra". O evangélico, que busca meios alternativos de seguir a Deus, já foi casado e tem dois filhos. Agora tem uma vida dupla. "De dia eu sou homem e à noite uma mulher".
A visão da igreja
Segundo o padre Juverci Pontes Siqueira, responsável por 19 comunidades da Paróquia Sagrada Família em Itu, os homossexuais são chamados à castidade. "Eles podem e devem se aproximar da perfeição cristã pelas virtudes de autodomínio, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental".
Embora a aceitação da sociedade em relação ao assunto seja cada vez maior, alguns religiosos ainda vêem o homossexualismo como uma doença ou fruto de problemas psicológicos. "Não existe preconceito, nós apenas procuramos ajudá-los mostrando o que Deus nos ensina, pois isso é um problema espiritual", afirma José Enéas Júnior, membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
Alan Leite discorda que esse seja é um problema espiritual, muito menos psicológico. "Eles tentam nos convencer que o que sentimos é fruto da nossa ilusão. Fiquei cinco anos tentando mudar, mas não consegui, pois ninguém deixa de ser o que é". Por outro lado, Júnior explica que a iniciativa de mudar deve ser da pessoa, sem nenhuma interferência. "O gay tem que querer ajuda, precisa partir dele. Ele deve se entregar a Deus através da oração e do testemunho".
Mas nem todos pensam assim. Exemplo disso é o travesti Walkiria, que acredita no livre arbítrio. "Cada um faz da sua vida o que quiser, e no final acerta as contas com Deus. Eu não prejudico ninguém, nem faço maldades".
No Catecismo da Igreja Católica, as relações homossexuais são apontadas como "intrinsecamente desordenadas e contrárias à lei natural". Também afirma que "o ato sexual é avesso ao dom da vida, não procede de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira e em caso algum podem ser aprovados".
Oliveira é contrário às opiniões da Igreja e alega que os heterossexuais têm e passam por pecados carnais tanto como os homossexuais. "O Espírito Santo é poderoso para nos livrar dos pecados e dos mal que nos aflige, mas ser homossexual não é pecado e por isso não temos do que nos libertar", finaliza.
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