Espaço de muitas histórias, Ituano Clube reabrirá suas portas em 2014
Prédio deverá voltar a funcionar após o Itu Casa Decor.
Jéssica Ferrari
Por Jéssica Ferrari
Em sua 5ª edição, o Itu Casa Decor vai inovar em seu projeto, promovendo sua exposição no prédio do saudoso Ituano Clube. O evento, que acontecerá entre os dias 16 de maio e 6 de julho de 2014, é aguardado com ansiedade por aqueles que conheceram o espaço em funcionamento.
Hoje, as paredes que guardam diversas histórias estão sem cor, e nem de longe refletem o brilho que já tiveram. O prédio está em silêncio, não se houve uma música soar lá dentro faz muito tempo. E as árvores da Praça da Matriz agora escondem a ampla fachada que se deteriora aos poucos. Por este motivo, a notícia da restauração do Clube e a possível volta de suas atividades, ecoam com alegria para muitas pessoas.
A ideia teve início com o atual presidente do Clube, Marco Antônio Marques de Almeida - o “Maca”, como é conhecido. Com uma ligação forte com a história daquele espaço, ele percebeu há alguns anos que o Itu Casa Decor poderia ser uma alternativa para que o Clube ganhasse uma chance de ser recomposto. Desta forma, ainda na terceira edição do evento, Maca chegou a conversar com a organização, mas pela dificuldade da reforma e por ela ir contra a ideia inicial do projeto de reformar uma casa e não um prédio, a conversa não gerou resultados. Mais duas edições foram realizadas, em 2012 e 2013, até que a equipe do Itu Casa Decor decidiu enfrentar o desafio e topou realizar a edição 2014 no Clube.
Confirmado, o evento buscará transformar as instalações fazendo uma viagem ao passado, uma oportunidade de se reacender o brilho daquele grandioso espaço. E para Maca, também de reabrir suas portas para a sociedade. “Ele [Clube] está fechado praticamente há 8 anos, então vai deteriorando. Com a passagem da Itu Casa Decor isso vai ser colocado em dia. Daí a intenção passará a ser trazer a sociedade para lá”, explica. Para isso, Maca está em busca da criação de uma nova diretoria que esteja disposta a trabalhar em prol da volta do Clube.
No entanto, ele acredita que é a sociedade ituana que deverá decidir o destino do prédio, após o fim da exposição. “Se a sociedade quer o Clube de volta, ela tem esse direito. Mas tem que arcar com o ônus para retomar”, afirma Maca. Para ele, não adiantará reformar o prédio e organizar uma equipe de administração, se a população não responder. “Clube, o Ituano vai ser sempre. Mas precisamos ver que tipo de Clube vai ser. Existem muitas ideias, mas precisamos ver o que a sociedade quer”.
O termômetro para isso será o ano de 2014, quando deverá ser realizada uma ação para atrair sócios. “Eu quero que a juventude possa frequentar o Clube, tenha onde reunir os amigos. Sei que não será igual, nem pode ser porque tudo muda. Mas tem condição de ser um lugar aonde vão se reunir as pessoas que têm boa educação, boa formação, cultura, para trocar ideias. Vamos adequar para que as pessoas se reúnam”, esclarece o presidente. Para ele, o espaço deverá ser um lugar onde se possa ouvir música ambiente, saborear boas comidas e bebidas, e se divertir.
Mas se não houver interesse das pessoas em participar do quadro de sócios, já existe um “plano B” para tentar reativar as instalações. “Ele será aberto para empresas oferecerem seus serviços lá dentro ou para a realização de eventos. Assim será custeada a manutenção necessária do prédio. Eu não posso deixar o Itu Casa Decor reformar esse patrimônio e depois abandonar. Precisamos ter a garantia que o clube não será abandonado e fechado de novo”, diz Maca.
A reabertura do Ituano Clube não conseguirá trazer de volta as mesmas atrações do passado, mas buscará retomar valores como a união entre as pessoas. “Nós chegamos a ter 2.500 sócios pagantes! Mas apesar das grandes festas e da popularização, esqueceu-se do lado social. E é esse lado social que eu gostaria que voltasse. Nós não precisamos fazer grandes bailes, mas eu gostaria de fazer uma ou duas noites de Carnaval por ano. Os Carnavais do Ituano Clube foram os melhores que eu já vi. Aquele Carnaval de salão, de jogar confete e serpentina faz falta aqui em Itu. Nós temos que ter um Carnaval mais social, para encontrar amigos, dar risada e brincar”, ilustra Maca.
E não será só a união entre o povo e a diretoria do Clube que deverá garantir que a história desse patrimônio não morra, as autoridade da cidade também deverão fazer sua parte. “A praça da matriz e seu redor hoje está abandonada. A polícia precisa voltar a fazer ponto lá, precisam fazer algo para acabar a falta de segurança. Onde gente boa se afasta, gente ruim toma conta”, assegura Maca.
Apesar dos possíveis problemas de segurança, não deverá ser este o impedimento para a reabertura dos serviços do Clube. Pelo contrário. Maca acredita que com o prédio funcionando, será a praça que retomará seus tempos de glamour. “Há muito tempo o povo ituano está vendo essa praça com o Ituano Clube todo apagado. Com o evento do Itu Casa Decor e dali para frente, poderão ver com o Ituano novamente acesso. Isso vai até mudar a ‘cara’ da praça”, aposta.
Você e o Ituano Clube!
Com a notícia da reabertura do Ituano Clube, com certeza muita gente relembrou histórias inesquecíveis vividas naquele ambiente de diversão. Então, que tal voltar ao passado, resgatar esses momentos e deixá-los registrados aqui no Itu.com.br?
Envie sua história para [email protected], acompanhada de uma fotografia (opcional) e do seu nome completo, contando o porquê o Ituano Clube ficou marcado em sua vida. Participe!
Um marco na história de Itu
Havia uma época em que as famílias ituanas e de outras localidades do país se reuniam em um espaço privilegiado na cidade de Itu, para se inteirar das modernidades da época e participar de grandes bailes sociais. Um tempo onde o bom mesmo era se reunir com os amigos e aproveitar o que de melhor se oferecia em questões de cultura e lazer.
Naquele tempo, o cenário da Praça Padre Miguel e sua bela estrutura arborizada eram abrilhantados pelas luzes e movimentação do famoso Ituano Clube. Grandes festas atraiam centenas de pessoas da cidade e do estado, inclusive artistas e políticos do período, como Paulo Maluf.
“Dizem aqui na cidade que o Ituano Clube é um clube da elite econômica. Não é verdade! O Ituano sempre foi um clube da elite pensante, da elite educada, da elite respeitosa”, afirma Maca. Para ele, o clube realmente mantinha sócios com alto poder aquisitivo, no entanto esse não era um princípio para frequentar o espaço. “Nós tínhamos vários sócios de situação bastante humilde, só que eles se importavam em frequentar um ambiente bom, se relacionar com pessoas que tinham cultura”, conta.
Buscando sempre se manter atualizado para atrair a sociedade, o Clube possuía uma grande biblioteca e ostentava os aparelhos mais modernos que existiam. “O Clube sempre esteve na ‘ponta’. O primeiro rádio que veio para Itu, veio para funcionar no Ituano Clube. A primeira televisão também. Depois as famílias mais poderosas iam comprando, mas sempre o começo de tudo era o clube. Assim foi com a discoteca, sala de som, projetores etc”, relembra Maca.
Uma forte ligação
Como o Clube era uma referência de lazer, o público jovem era fortemente cativado a querer participar dos eventos. O próprio Maca, mesmo quando não tinha a idade mínima permitida para entrar no local, tentava burlar o sistema. No entanto, depois que conseguiu se tornar sócio não saía mais de lá. “Eu sou o que chamam de ‘barata de clube'”, brinca.
A ligação de Maca com o Clube vem desde criança. Sua família sempre morou por perto e foi praticamente constituída naquele local, assim como outras famílias da cidade. “Meu avô conheceu minha avó lá. Meu pai também conheceu minha mãe no Clube. E eu desde menininho ia ao clube, mesmo quando ainda não podia entrar. Deixavam a porta aberta eu entrava”, assegura.
Mas a história daquele jovem com o Clube não acabaria ali. Por volta dos anos 79 e 80, Maca não se contentou em só apreciar o entretenimento oferecido aos sócios, e aos 22 anos entrou para a diretoria do Clube. Em seguida se tornou o presidente da instituição, cargo que ocupou por quatro anos consecutivos.
Neste período, sua diretoria trouxe para Itu as festas temáticas, lançando o Baile do Hawaí, o Baile do Queijo e Vinho, e retornando com o Baile do Chopp. Os eventos faziam grande sucesso, atraindo muitos visitantes, mas se você não fosse sócio estava fora da diversão. “Eu não facilitava a entrada de ninguém”, lembra Maca, apesar de também já ter tentado a mesma façanha anos antes.
Mesmo depois de sair da presidência, continuou presidindo assembleias e eleições. Nem quando morou em outra cidade conseguiu se desligar do Clube. “Quando voltei para Itu [final dos anos 80], criamos o Conselho do Clube”, conta Maca.
Apagando as luzes
Durante as reuniões do Conselho, Maca conta que alertou diversas vezes a nova diretoria para a questão da popularização dos eventos do Clube, mas não foi ouvido.
“Eu fui um presidente que proibia a entrada no clube se não fosse associado. A não ser pela primeira vez, como convidado por um sócio”. Nesta época, Maca conta que todos se conheciam e mantinham cadastro no clube. Não havia preocupação com a segurança, pois se algo errado acontecesse, sabia-se como agir. Entretanto, as diretorias posteriores aumentaram as festas, as tornaram mais populares e passaram a vender ingressos. Desta forma, já não se conheciam mais as pessoas que frequentavam o local.
“Eu vinha argumentando que isso precisava acabar. Eu dizia ‘Vocês estão abandonando os sócios. Um dia o sócio vai abandonar o Clube’”. Quando enfim essa fase de diretorias passou, Maca queria que a empresa voltasse a ser um clube - no seu conceito antigo. “Mas daí quiseram concorrer com a organização destes eventos gigantes que passaram a acontecer em outro local”, conta.
Para Maca, o Ituano Clube não fechou, foi abandonado. Com a saída dos sócios, o local ficou sem faturamento. As atrações que o Clube oferecia em sua estrutura já não atraiam mais. E suas portas estavam ficando mais fechadas, do que abertas à sociedade. Nesta época o Clube tinha 17 funcionários registrados na folha, só na área da limpeza. “O Ituano chegou a ter mais de 25 funcionários, todos registrados. Só que com um quadro de associados de menos de 50 pessoas”, exclama.
Nesta situação, a diretoria se viu então em desespero. Tentativas de resgatar associados não tiveram êxito e assim os últimos funcionários foram demitidos. Além da fase ruim da administração, o ambiente ao redor do Clube também já estava diferente. Não havia mais segurança, nem clima amigável entre os frequentadores. Assim, apagaram-se as luzes e trancaram-se as portas.
Tempos depois, a expectativa dessa reabertura está sendo renovada. Com o Itu Casa Decor o prédio deverá voltar a atrair centenas de pessoas, inclusive jovens que nunca ali pisaram. E então a história deste marco da cidade ganhará novos ares, juntando-se as lembranças a novos registros.