Irmandade da Candelária: mais de 300 anos de história

Crédito: Deborah Dubner / www.itu.com.br

Itu é famosa por sua história e cultura, recebendo os apelidos de “A Fidelíssima” e “Berço da República”. Mas há outra vertente da cidade quatrocentona que não pode nunca ser esquecida: a sua religiosidade. Suas igrejas e tradição católica conferem a Itu o venerável título de Roma Brasileira, berço de cerimônias religiosas tradicionais e fervorosas, recebendo milhares de fiéis de vários cantos do Brasil.

Celebrando o Natal justamente quando a cidade completa 400 anos, trazemos à luz a perspectiva das Irmandades ituanas, em especial a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz da Paróquia Nossa Senhora da Candelária de Itu, que traz mais de 300 anos de história em sua bagagem.

A história é tanta que virou tema de pesquisa, que se transformou em livro. “Memórias de uma Comunidade Católica”, de autoria do ituano João de Almeida Neto, foi lançado em novembro deste ano.  

“Atualmente, é chamada de Irmandade, mas antigamente era conhecida por Confraria. É uma das mais antigas existentes na atualidade”, explica o autor.  Conforme orienta, o objetivo principal das confrarias ou irmandades na época era dar assistência social e religiosa a seus membros, ajudando órfãos, viúvas e idosos.

“A Irmandade do Santíssimo de Itu cuidou também da caridade para com os desfavorecidos, gesto que recorda que a Eucaristia leva à partilha fraterna com os pobres”, salienta o Arcebispo Dom Gil Moreira em seu prefácio ao livro.

Patrimônio cultural

O historiador Luis Roberto de Francisco alerta sobre o papel que as Irmandades exerceram como parte da elite organizadora e patrocinadora das atividades artísticas-culturais relacionadas ao catolicismo. “Em Itu, a Irmandade sempre foi responsável pela manutenção das festividades da Semana Maior e nesse contexto possibilitou a atividade artística de compositores como o padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), que recebeu da entidade recursos para escrever a música para a Semana Santa no final do século XVIII e início do XIX.” Seu texto integra o livro de João de Almeida Neto, no capítulo 7- Memórias.

Pela primeira vez, uma mulher provedora em Itu

A Irmandade Santíssimo Sacramento tem uma característica de associação mista. Mas em Itu, pela primeira vez na história, uma mulher assume o cargo de provedora da Irmandade. Trata-se de Olga Sodré, eleita pelos irmãos por unanimidade para assumir a tarefa. Olga é psicóloga e doutora em filosofia (Paris - Sorbonne), e nutre por Itu importantes raízes, sendo filha da ituana Yolanda Frugoli Sodré e do militar, historiador e escritor, Nelson Werneck Sodré.

“Eu entrei este ano, na Páscoa. Fui para a Procissão do Dia da Ressureição e quando entrei na igreja, escutei uma senhora dizendo que essa irmandade estava com poucos membros e poderia desaparecer. Senti isso como um convite e uma inspiração. Só quando terminou fui atrás dessa senhora e acabei entrando na irmandade. Fui para a primeira reunião e comecei a aprender como funciona. Me envolvi tanto que acabou acontecendo esse convite de eu me tornar a provedora, pela primeira vez uma mulher nessa função.”, conta Olga.

Renovação da fé

“Nas procissões, quando a gente está caminhando com o andor, a ideia é uma caminhada simbólica para Jerusalém Celeste, com o Cristo vivo e presente entre nós. Tudo isso tem como objetivo reviver a fé e a presença de Deus”, explica Olga. “Através da valorização das irmandades do Santíssimo, a nossa busca é encontrar formas novas de viver essas experiências de fé, integrando a religiosidade com a cultura, e honrando a tradição e o legado que se faz presente em nossa história”, completa a nova provedora.

Como Participar

Olga Sodré reforça o aspecto atuante da Irmandade, que ajudou a manter o patrimônio e a prosperidade de Itu, deixando uma herança material e espiritual para a cidade. “Eu acho que temos que renovar. Os jovens também podem participar, aprendendo a viver uma espiritualidade central na Igreja.”, convida.

A irmandade se reúne todas as quintas-feiras na Candelária, na Capela do Santíssimo, das 12h20 às 12h50. Há sempre uma curta meditação. E também, nas segundas quartas-feiras do mês, às 19 horas, o Monsenhor reúne os vários movimentos da candelária para fazer outra meditação, que dura aproximadamente uma hora. As portas estão abertas!