Publicado: Quinta-feira, 17 de julho de 2008
Lei Seca é sentida no bolso de comerciantes de Itu
A queda no faturamento chega a 20% em menos de um mês.
Camila BertolazziPor Camila Bertolazzi
“Não se pode agradar gregos e troianos”. Apesar de antigo, o provérbio não deixou de ser verdadeiro e ainda é bastante atual. Exemplo disso é a polêmica Lei Seca que, por um lado é responsável pela queda no índice de acidentes nas estradas de todo o país, mas por outro, causa impasse entre os donos de bares e restaurantes que alegam prejuízo depois que a nova lei entrou em vigor, no dia 19 de junho.
Existem os que são a favor, uma minoria que é contra e também aqueles que acham que ela deve ser revista. Apesar das críticas, uma coisa é certa: seu cumprimento tem trazido boas notícias. Uma delas é a de que o número de mortes no trânsito caiu, em média, 57% na cidade de São Paulo desde a adoção da lei, segundo a Secretaria de Segurança Pública.
Pior para os donos de bares e restaurantes na cidade de São Paulo. A nova lei 11.705 – que pune severamente os motoristas que dirigem sob influência de qualquer quantidade de álcool – já surte efeito também no bolso dos empresários. A queda no faturamento chega a 20% em menos de um mês, segundo estimativa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Em Itu a situação não é diferente. Segundo o gerente do Studiocar, Marcelo de Britto Cabianca, o rendimento do Pub caiu 15% no último mês. Para tentar contornar a situação, foi inaugurado um ponto de táxi em frente ao bar, mas mesmo assim eles fecharam o mês com prejuízo. “Infelizmente isso não adiantou, pois o cliente chega com o carro dele e, para ir embora de táxi, nós teríamos que contratar motoristas para levar o carro de volta, e o custo não permite isso”, explica Cabianca.
O mesmo recurso foi adotado pelos proprietários do Tonilu, que para driblar as quedas já verificadas no movimento e no faturamento, estão investindo em saídas criativas. “Além dos taxistas disponíveis aos clientes que pretendem beber, nós incluímos várias opções de coquetéis sem álcool no cardápio”, conta Rita Andreazza, sócia-proprietária do bar.
Apesar do teórico aumento na procura, o taxista Oscar Silveira afirma que o rendimento ainda é o mesmo e, ao contrário do que algumas cidades pretendem fazer, os taxistas de Itu não defendem o fim da bandeira 2 para estimular o uso de táxis e garantir o cumprimento da Lei Seca. Se isso se concretizar o serviço ficará 20% mais barato nos fins de semana e madrugada. “Nós não temos planos de baratear o custo da ‘corrida’”, afirma Silveira, que desde 1974 trabalha como taxista no ponto da Praça da Matriz.
Lei Seca
A nova Lei 11.705, que altera o Código de Trânsito Brasileiro, proíbe o consumo de praticamente qualquer quantidade de bebida alcoólica por condutores de veículos. Quem for flagrado com uma dosagem superior a 0,2 gramas de álcool por litro de sangue (equivalente à ingestão de uma lata de cerveja ou um cálice de vinho) pagará multa de R$ 957, receberá sete pontos na carteira de motorista e terá suspenso o direito de dirigir por um ano. Aqueles cuja dosagem de álcool no sangue superar 0,6 g/l (três latas de cerveja) deverão ser presos em flagrante. As penas podem variar de seis meses a três anos de cadeia, sendo afiançáveis por valores entre R$300 e R$1.200 reais. Os infratores também perderão o direito de dirigir por um ano.
O tempo de permanência do álcool no organismo varia de uma pessoa para outra. Fatores como estar com o estômago vazio ou cheio, ser homem ou mulher e até estar mais ou menos acostumado à bebida influenciam. De maneira geral, um copo de cerveja ou um cálice de vinho demora cerca de seis horas para ser eliminado pelo organismo.
A nova lei sobre consumo de álcool para quem dirige aproxima o Brasil de países como Jordânia, Qatar e Emirados Árabes Unidos, que não permitem nenhuma concentração de álcool no sangue dos motoristas, com punições que vão de multas à prisão. A maioria dos países da União Européia, assim como os Estados Unidos e Canadá, tem uma legislação mais flexível em relação ao tema. Já algumas nações islâmicas, como Arábia Saudita e Irã, proíbem a venda de bebidas alcoólicas no país.
Apesar de concordar que motoristas alcoolizados devem ser severamente punidos, a sócia-proprietária do Tonilu discorda de alguns pontos da nova Lei. “Toda Lei deve ser equilibrada e essa com certeza não tem essa qualidade. Temos sim que punir, só que não podemos privar as pessoas que saem para se divertir e também aquelas que ganham a vida honestamente em bares, restaurantes e boates”, contesta Rita.
O gerente do Studiocar faz uma sugestão. “Os policiais deveriam punir quem se envolver em qualquer tipo de acidente - com o mínimo de álcool no sangue -, daí sim a pessoa sai para beber sabendo das conseqüências”, afirma Cabianca. E completa: “Quem sabe e pode beber continua a vida normal”.
Flexível ou não, devemos levar em conta que a Lei não está proibindo ninguém de dirigir, apenas está punindo, como deveria ter sido feito há muito tempo, as pessoas que bebem, dirigem e podem causar um acidente e até a morte de outras pessoas. “Com certeza a Lei é muito importante e eficaz, pois aqui no Brasil a maioria das pessoas que bebem e depois dirigem não tem noção de quanto estão alcoolizadas”, conclui Paulo Victor, proprietário do Restaurante Dona Corina.
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