Um estouro de Vingança
Tradicional manifestação de Judas reuniu milhares na Matriz.
Renan PereiraVeja as fotos desta notícia no Flickr
Por Renan Pereira
Os ponteiros da Matriz indicavam meio dia em ponto quando o estouro da primeira bomba ecoou no azulado céu ituano, fazendo com que a manifestação uníssona dos espectadores encobrisse, pelo menos, os próximos 30 segundos de explosões.
O ambiente descrito no parágrafo acima já se tornou referência na cidade de Itu em todo domingo de Páscoa, dia em que milhares de pessoas vão às ruas para acompanhar a mais tradicional festa do Estouro do Judas realizada no país.
Mais do que um sinal de protesto ao suposto traidor de Jesus Cristo, o evento ganhou notoriedade turística e tem atraído cada vez mais pessoas ao município, que querem acompanhar de perto o exagero de vingança.
Afinal, além da imagem de Judas, os ituanos incluem, à tradicional cerimônia, a imagem do capeta - que “morre abraçado” com o apóstolo traiçoeiro.
Vingança em dobro
Além da Praça da Matriz, nesta edição o Estouro foi realizado também no campo de futebol do Centro Esportivo e de Lazer do Pirapitingui, no bairro Cidade Nova. Evento exclusivo do município, o costume ituano se difere da malhação de Judas de qualquer outro lugar do país. A manifestação cultural única está, inclusive, registrada no livro Guinness dos recordes.
Kenji Katahira
História
A história conta que em 1985, um artista pirotécnico machucou suas mãos com uma bomba que tinha fabricado e a partir dessa data resolveu fazer todos os anos um boneco recheado de pólvora, representando Judas, e queimá-lo.
Quando este artista se mudou de Itu, o estouro do Judas ficou por conta dos irmãos Joaquim e Inácio Corneta, que não deram assiduidade à festa, sendo interrompida algumas vezes. Os irmãos Parnaíba assumiram o cargo quando aqueles faleceram, e fizeram transformações no espetáculo, adicionando a imagem do diabo em meados de 1910.
Em 1931, o Sr. Zico Gandra fez seu primeiro Judas, que foi queimado com querosene, paralelamente ao boneco oficial que se queimava na Praça Miguel. Em 1938, ele assumiu o cargo de responsável pelo evento, dando continuidade até 2003, sempre inovando e aprimorando o sistema de confecção do Judas.
Homenagens
No centro, antes do tradicional Estouro do Judas, houve ainda homenagem a Zico Gandra. Artista responsável pela confecção dos antigos bonecos do Estouro de Judas, Zico faleceu no dia 10 de junho de 2010. A honraria foi entregue aos familiares do fogueteiro, que se emocionaram com a cerimônia.
Já a entrega do prêmio “Cidadão Samba” foi concedida a cinco personalidades do Carnaval ituano. Darcy Duarte Barros (foto), fundador do já consagrado Bloco do R, foi um dos homenageados na cerimônia. Com 74 anos, o artista participa do bloco desde 1953 – antes mesmo da sua criação oficial.
Além dele, a honraria foi concedida também a Márcia Cristina Binelli Bresciani e Osmir Aparecido Alves (Bloco da Melhor Idade), Mari Elsa Balsan Perina (Mocidade Independente) e Vagner Antonio Rosa, Michel Rosa do Vale e Izabel de Fátima Volpi (Vale do Sol). A festa foi encerrada com uma apresentação animada do Bloco, na própria praça da Matriz.