Autos de Inventário - Padre Antonio Pacheco da Silva
Camila Bertolazzi
Alferes Luciano Francisco Pacheco - Inventariante
Reverendo Antonio Pacheco da Silva - Inventariado
Cx. 30 - Ano 1825.
fls. 06
Traslado do testamento de muito reverendo padre Antonio Pacheco da Silva.
Folha huma _ Jesuz, Maria, Jose – Em nome da Santíssima Trindade Padre, Filho e Espírito Santo = Saibam quantos este publico Instrumento virem, que sendo no anno de Nascimento de Nosso Senhor Jesuz Christo de mil oito centos e desenove aos cinco do mez de maio nesta Villa de Itú, eu o Padre Antonio Pacheco da Silva, estando em saúde, juízo, e intendimento, que Deos me deo, temendo a morte, e querendo pôr minha alma no caminho da salvação, faço este Testemanto na forma seguinte: Primeiramente encomendo minha alma a Santíssima Trindade, que a creou: rogo ao Eterno Pai que pelos merecimentos de Jesuz Chirsto, Nosso Senhor requeira receber a Virgem Maria, Mossa Senhora, ao Anjo de minha guarda, Santo do meu nome, e a todos de minha devoção, e da corte do Ceo queiram interceder, por mim na hora de minha morte, para que vá gozar a Bemaventurança, para que fui criado, e como verdadeiro Christam protesto viver, e morrer na Santa fé Catholica, e crer tudo o que crê, e ensina a Santa Madre Igreja de Roma, em cuja fé espero salvar minha alma pelos merecimentos da Paixam, e morte de Nosso Senhor Jesuz Christo. Declaro que sou natural desta Villa, filho legitimo do Sargento Mór Antonio Pacheco as Silva, e Dona Ignacia de Goes de Arruda, já fallecidos, e por isso nam tenho herdeiro algum forçado: mas nomeo, e instituo por minhas herdeiras as minhas sobrinhas Gertrudes, filha de meu irman José de Goes, e Maria, filha de minha Irman Dona Thereza: estas herdaram tudo o que o que restar cumpridos os legados, que deixo. Peço a meu irmam o Alferes Luciano Francisco Pacheco, a meus sobrinhos Jose de Campos Pacheco e José de Almeida queiram ser meus Testamenteiros. Determino que no dia do meu fallecimento se digam Missas de corpo presente pelos Padres, que se acham; serei amortalhado com os hábitos Sacerdotaes, como He de costume, e sepultado na Igreja Matriz. Far-se-há nesse dia, sendo possivel officio Solenne por minha alma assistido, e acompanhado pelos Sacerdotes, que se acham. Se dirá pro minha alma quatro Capellas de Missas. Declaro, que possuo quatro escravos que são Francisco, Joaquim, Dominagos e Joam, os quais deixo forros pelos bons serviços que me fizeram, e meu Testamenteiro dará a cada hum huma dobla em dinheiro, para principiarem sua vida.
Possuo uma chacra, em que moro que He o meu Patrimonio com os moveis, que nella se acham. As casas da Villa, que me tocaram por herança Materna vendi a meu irmam o Sargento Mor Jose de Goes por preço de hum conto de reis: desta conta recebi sete centos mil reis. Possuo mais na rua Santa Rita humas casinhas, em que mora minha afilhada Maria Joaquina, cujas casas dei-lhe para morar durante sua vida; e por morte irá para as minhas herdeiras, com advertência porem que as portas, janellas e um pedaço de terra no fundo do quintal sam della, e me não pertence: como bem se pode ver da Escritura de venda dos chaons, que comprei. O engenho, terras, que possuia contiguo a minha chácara, vendi a Dona Josefa do Amaral a pagamentos, e do credito, que me passou, está em meu poder há de constar o valor, e o que e o que resta. Deixo para se concluir a obra do rego d’agoa, que estou fazendo para metter agoa no meio desta Villa a quantia de quatro mil cruzado, que meu Testamenteiro apromptará, vendendo o melhor, e mais bem parado de meus bens paa se concluir o rego, e sua cuberta thé o corrigo de Lamarám no caminho de Sorocaba, e para melhor desempenho da obra dou de premio meu Testamenteiro cem mil reis: com advertência porem, que a proporção que eu em minha vida adiantar a obra, se abata o valos dos quatro mil cruzados, e da mesma sorte se abatar no premio do testamenteiro. Declaro que nunca possui beneficio algum collado: e portanto nada se deve da chamada lutuosa, e de alguns créditos do uso das minhas ordens, tenho feito a devida applicação conforme os Sagrados Canones, e cazo conste de meu huso de varam acharem-se em poder meu alguns bens, que provem do caso de ordens, o meu Testamenteiro os não envolva nos mais, que possuo, pois Sam Patrimonio dos pobres, e os applicará para as despesas dos Lazaros do Hospital desta Villa: nem para encontrar esta minha disposição se poderá valer de oppinioens contrários: pois He minha vontade, que assim se cumpra, como tenho feito em minha vida. Por quanto esta He a minha ultima vontade, fia este Testamento na forma que está escrito: pelo qual revogo todos os mais, que tiver feito: e quero que este valha em Juizo, e fora delle,e pesso as Justiças de sua Magestade queirão dar-lhe valor e cumprimento e hajão aqui por expressas, e declaradas todas, e quaisquer clausulas em Direito necessárias. Em o dia, mez, e anno assima declarado, e este por mim feito e assinado.
Antonio Pacheco da Silva.
Obs: Esse documento trata-se de um Traslado (cópia) que está anexado ao Inventário do Padre Antonio Pacheco da Silva e, portanto, aqui não aparece a assinatura dele.