Carolina Belloque: Parto Humanizado Domiciliar
"Acredito e luto por um caminho do meio".
Camila Bertolazzi
O parto humanizado domiciliar tem sido amplamente discutido em todo o país. O conselho regional de medicina do Rio de Janeiro solicitou a punição do médico Jorge Kuhn, por se posicionar a favor desta prática em uma entrevista ao Fantástico e proibiu que os médicos do Rio de Janeiro apoiassem partos domiciliares bem como a participação de doulas e parteiras nos partos realizados em hospitais. Diante destes atos, mulheres de todo o país foram às ruas mostrar que estas decisões cabem a elas e não apenas aos médicos, e tais medidas do CREMERJ foram derrubadas por uma ação civil pública.
Hoje, temos um índice de 80% de cesarianas na rede particular no Brasil. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que até 15% dos partos recebam este tipo de intervenção médica. Este alto índice de cesáreas se dá por causa do sistema financeiro sustentado pela sala de cirurgia, o anestesista, o hospital e, pelas horas de médicos que preferem fazer uma cirurgia em 50 minutos do que ficar 12 horas ao lado de uma paciente em trabalho de parto natural.
Em países desenvolvidos, os partos domiciliares são comuns. Na Holanda, por exemplo, eles ocorrem de forma generalizada. Estudos realizados na Inglaterra mostram que o índice de complicações em partos domiciliares é o mesmo que em partos hospitalares.
Entretanto, toda esta discussão deve se aproximar de um lado mais sutil que envolve o nascimento: Como queremos receber os nossos bebês neste mundo? Como queremos que eles sejam tocados pela primeira vez? Onde queremos que eles passem o seu primeiro dia de vida? Mesmo no parto normal hospitalar, o bebê é retirado por uma mão com uma luva de plástico, recebe um tapa para começar a chorar e é levado para um berçário, separado de seus pais. O que a maioria das pessoas não sabe é que não precisa ser assim.
No parto humanizado, que também é realizado em hospitais, o bebê é recebido em um ambiente calmo, com uma luz suave e é imediatamente entregue a sua mãe. Ele só recebe algum tipo de intervenção médica se for realmente necessário. O único aspecto que não é flexibilizado em nenhuma maternidade é a permanência do bebê no berçário em suas primeiras horas de vida.
Quando um bebê nasce, tudo é novo. A única referência que ele tem é o batimento do coração de sua mãe. Se ele é separado da mãe, então tudo é estranho e ele fica triste. No meu caso, isto me incomodou demais, ninguém podia me convencer que o melhor para um ser que estava há 9 meses dentro de mim era logo depois de nascer ficar longe de mim.
Pensei na possibilidade de fazer o parto em casa. A minha médica não queria, disse que conselhos de medicina estavam perseguindo os médicos que fazem partos em casa. Tentei me conformar com as regras das maternidades, mas eu não podia me submeter a elas.
Enfim, combinei com a médica que, no dia do parto, decidiríamos e, se estivesse tudo perfeito, poderíamos ficar em casa. Foi tudo perfeito! A equipe médica veio na minha casa (uma obstetra, um pediatra e uma doula). Os médicos não encostaram na gente, apenas observaram tudo. O Guilherme, meu marido, foi quem recebeu a filha, a primeira pessoa a encostar na Lorena e também teve a honra de cortar o cordão umbilical (só depois que parou de pulsar). Para mim, foi maravilhoso! Um rito de passagem que toda a mulher merece a chance de ter. A dor do parto? Também é maravilhosa! É a única dor, que temos a oportunidade de sentir, que é para o bem. A Lorena é um bebê simplesmente feliz e até hoje não conhece um hospital.
Acredito e luto por um caminho do meio, no qual possamos fazer os partos naturais nas maternidades sem que alguma regra como a permanência no berçário possa estragar tudo ou se uma mulher quiser fazer o parto em sua casa, que ela possa contar com todo o apoio médico com a certeza de que estes médicos do bem não serão perseguidos por isto.
Carolina Belloque é mãe, Doutoranda em Administração e professora na PUC-SP.