Cultura

Publicado: Sábado, 20 de agosto de 2011

Quando a cultura popular renasce na lembrança

O 'Dia do Folclore' é comemorado em 22 de agosto.

Crédito: Itu.com.br Quando a cultura popular renasce na lembrança
Eterno contador de causos, Timóteo revela que sua narrativa predileta é a do lobisomem

Por Tamara Horn

Fantasia, magia e inocência são elementos fundamentais para compor a cultura popular, que se torna uma mistura de espontaneidade, anonimato e popularidade. O termo folklore – folk: povo, lore: saber - foi criado pelo arqueólogogo Willian John Thoms em 22 de agosto de 1846 (quando publicou um artigo na revista The Athenaeum, justificando o uso do termo) e chegou por aqui com a caligrafia pouco alterada: folclore.

No Brasil, a data ganhou conhecimento em 22 de agosto de 1965 através do decreto federal nº 56.747/65, inspirado na Carta do Folclore Brasileiro de 1951, assinado pelo presidente Humberto Castelo Branco.

Segundo o documento: “Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. Ressaltamos que entendemos folclore e cultura popular como equivalentes, em sintonia com o que preconiza a Unesco”.

Mais do que popular, o folclore é uma questão de tradição e costumes e que envolve danças, músicas, literatura de cordel, lendas, mitos entre tantos outros. A aposentada Teresa Siqueira relembra a infância: “morava em Joaquim Távora (interior do Paraná), minha família era de lá. Com 12 anos completos, eu me juntava ao resto da família para escutar histórias do saci-pererê, da mula-sem-cabeça. Além de me encantar com os contos; eu creio neles”.

A senhora faz parte de um grupo de pessoas que carrega em sua origem a bagagem de toda essa extensa cultura e repassa para seus netos. “Ainda conto tudo que vi e vivi para os meus netos, que me escutam com atenção, mas não acreditam quando falo que o saci fazia tranças na crina dos meus cavalos", lamenta.

Pode ser por isso que o grandioso Mário de Andrade participou da Missão de Pesquisas Folclóricas. Andrade deparava-se com o dilema da modernidade: ao mesmo tempo que as manifestações populares corriam o risco de desaparecer com a crescente urbanização do país, o avanço tecnológico da época proporcionava meios de capturá-las em discos, fotografias e filmes. 

Contos e causos

Talvez os contos, causos, lendas e mitos sejam os elementos que mais brincam com o imaginário do povo quando o assunto é o folclore. O poder da palavra é tão forte que causa um certo alvoroço em quem escuta os "mistérios da meia noite".

Para o compadre Timóteo, a cultura popular se fez presente com as histórias de Seu Quinzinho, o senhor que ia até a sua casa no meio rural para contar histórias do Saci-Pererê. Com todas essas narrativas o compadre tem agora em seu currículo, 22 anos de contador de causos do Mazzaropi e de causos folclóricos/ caipiras.

Entre os preferidos está o causo do lobisomem. Timóteo revela que é importante brincar com a inocência e fantasia das crianças, mas sempre falando a verdade para a garotada, e nunca botando medo. "Os contos, antes de mais nada, é para a diversão do público. É importante criar a situação com efeitos sonoros, para a ação ser convincente tornando tudo fantástico", afirma.

Ele também conta da vez em que o curupira entortou a sua espingarda. Ao entrar na mata para matar rolinha pica-pau, resolveu encostar o instrumento em uma pedra e partiu para a cachoeira. Ao retornar ao local, percebeu que sua arma estava torta e ao olhar para o chão viu as marcas de pés virados para trás, eram os pés do curupira (protetor da natureza e dos animais).

Personagens do folclore

O Folclore Nacional é muito rico e diversificado. Em cada região do Brasil podemos encontrar diversos contos, lendas e personagens que estão estritamente relacionados com a cultura popular, principalmente, das áreas mais interioranas. Esse folclore é fruto, principalmente, da cultura oral e foi passando de geração para geração com o passar dos anos.

Curupira: O curupira seria um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. 

Lobisomem: Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz ele que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Neste período, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.

Iara: Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água: a sereia. Este personagem teria o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, conseguiria encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.

Mula-sem-cabeça: Surgido nas cidades do interior, o mito conta que uma mulher teve um romance com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira ela se transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas.

Saci Pererê: O Saci-Pererê é representado por um menino negro que tem apenas uma perna. Sempre com seu cachimbo e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Diz a lenda que ele vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas.

De acordo com uma das vertentes da antropologia, essas criaturas mitológicas possuem como função o controle social, denunciando a violação de normas e valores fundamentais à manutenção/ reprodução desses agrupamentos.

Em Itu

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Bumba Meu Boi”, de Itu, realizará o 2º Festival do Folclore entre os dias 22 e 26 de agosto. A festa acontecerá das 14 às 16 horas, durante todos os dias. Leia mais.

Turismo folclórico

A cidade de Olímpia, situada no interior de São Paulo, tornou-se a capital do Folclore. Anualmente o município realiza um festival composto por mitos e lendas, danças, contos folclóricos, culinária e muito mais, que reúne pessoas de várias partes do país. Olímpia também preserva o Museu de História e Folclore “Maria Olímpia” é conside

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