Laurentino Gomes: um contador da nossa História
Jornalista e escritor mora em Itu e fala sobre seus projetos
Deborah DubnerColaboração especial do documentarista José Antonio Barros Freire
Era uma vez um menino... que nasceu em um sítio perto de Maringá, no norte do Paraná. Seus pais - João Ignácio e Maria Ascenção - humildes agricultores, sabiam o quanto era importante para as crianças “ler livros para enfrentar a vida”. Aprendeu em casa, com o pai e a mãe, o valor das palavras e a sagrada missão de escrever livros.
O tempo passou, o menino cresceu, estudou, trabalhou muito e se tornou jornalista e escritor consagrado. Seu primeiro livro virou bestseller. É reverenciado no Brasil e exterior. São mais de 600 mil exemplares vendidos no Brasil e em Portugal, o que significa que mais de 3 milhões de pessoas estão lendo sobre a História do Brasil!
Estamos falando do jornalista e escritor Laurentino Gomes, apaixonado pelo seu trabalho, que escolheu recentemente morar em Itu. Com o livro "1808" já consagrado como Best Seller, lançou o segundo da trilogia em setembro desde ano. Em Itu, promoveu duas noites de autógrafos na Livraria Nobel do Plaza Shopping, do novo livro "1822", que mostra “como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado.”
Laurentino Gomes e sua companheira Carmen Gomes receberam a nossa equipe em sua casa, para um bate-papo inesquecível sobre sua vida, projetos realizados e ainda por realizar. E quem ganha com isso é você! Boa Leitura!
> Quais são suas lembranças do primeiro livro? Leia mais: www.laurentinogomes.com.br
Laurentino Gomes: “1808” produziu uma transformação radical em minha vida. Até lançá-lo na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, eu seguia uma bem sucedida carreira jornalística como repórter e editor de jornais e revistas. Tinha quase trinta anos de carreira e já passado por redações importantes, como a do jornal “O Estado de S. Paulo”, onde trabalhei seis anos, e a da revista “Veja”, onde fiquei quinze. Tinha 22 anos de Editora Abril e estava, teoricamente, a três anos e meio da minha aposentadoria. Então, de repente, fui colhido pelo fenômeno. No dia seguinte ao lançamento, no pavilhão da Bienal no Riocentro, o editor veio ao meu encontro e anunciou: “Rapaz, o seu livro vende como pãozinho quente em padaria às 7 horas da manhã; as pessoas estão comprando sem parar!”. A partir daí tudo mudou. Deixei para trás a rotina das redações, que parecia sólida e fadada a terminar na aposentadoria e atendi ao novo chamado: passei a me dedicar integralmente aos livros de história e à minha nova carreira de escritor. Desde então, já percorri mais de cem cidades brasileiras e portuguesas falando sobre história do Brasil em cerca de 300 aulas, palestras e sessões de bate-papo com os leitores. Também mudei de São Paulo para Itu, daqui pra frente a minha cidade adotiva e onde hoje já tenho inúmeros amigos e vivo mais feliz do que era antes.
> Como jornalista porque escolheu a História do Brasil?
L.G.: Venho de uma família de agricultores pobres do norte do Paraná. Meu pai tinha estudado até o quinto ano primário. Minha mãe, só até o primeiro. Apesar disso, eram pessoas que valorizaram a leitura e a educação. Meu pai era um leitor voraz de livros de história, que ele geralmente ganhava de presente ou pedia emprestado do vigário local. Quando eu era criança, levava almoço para ele na roça. Enquanto ele comia, sentávamos à sombra de um cafeeiro, onde eu o ouvia encantado, contar histórias do império romano. Acho que vem daí, dessas lembranças longínquas, o interesse pela história e pelo jornalismo. No fundo, essas duas disciplinas são muito parecidas, quase gêmeas. Jornalistas testemunham e relatam a história a sangue quente, em tempo real, enquanto ela acontece. Historiadores fazem a mesma coisa, só que com um distanciamento maior no tempo e com mais método e disciplina na apuração. Mas o repórter é o historiador do dia-a-dia tanto quanto o historiador é o repórter do passado.
> Qual é o seu método de pesquisa e como seleciona as informações?
L.G.: Procuro aplicar nos meus livros o conhecimento e a experiência adquiridos como jornalista em mais de trinta anos como repórter e editor. É preciso ler muito, consultar documentos, confrontar diferentes fontes de informação na tentativa de chegar o mais próximo possível da verdade. Uso a linguagem e a técnica jornalísticas para tornar história um tema acessível e atraente para um público mais amplo, não habituado ao estilo árido e, às vezes, incompreensível dos livros acadêmicos. Portanto, tento servir de filtro entre a linguagem especializada da academia e o leitor médio. Além disso, não me limito a pesquisar os livros e fontes tradicionais. Vou aos locais dos acontecimentos de duzentos anos atrás, mostrando como estão hoje. Preocupo-me em atualizar valores da época, fazer comparações e dar exemplos. O estilo do livro “1822” é muito semelhante ao do "1808”. Tudo para facilitar a compreensão do leitor. O que procuro demonstrar com os meus livros é que a História pode ser fascinante, divertida e interessante, mas sem ser banal.
> Como é o relacionamento com os leitores?
L.G.: É o mais próximo possível. Sou contra escritores que fazem livros e se escondem dentro de casa, evitando qualquer contato com os leitores. Eu, ao contrário, dou aulas, palestras, participo de sessões de bate-papo e de autógrafos, vou a feiras literárias, visito livrarias e escolas, dou entrevistas. Também tenho comunidades no Facebook e no Twitter e também um site na Internet, pelo qual os leitores podem acompanhar a minha agenda, ler entrevistas e artigos publicados sobre mim e minha obra, discutir os posts que faço no meu blog e enviar e-mails para minha caixa postal. É como naquela música do Milton Nascimento: “Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Eu corro atrás dos meus leitores.
> Somados, 1822 e 1808 estão próximos a um milhão de exemplares. Se calcularmos quatro leitores por exemplar, são quatro milhões de pessoas lendo Historia do Brasil. Como você vê essa disseminação do conhecimento?