Economia & Negócios

Publicado: Quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

24 horas é pouco!

47% das brasileiras fazem parte da economia do país.

Crédito: Camila Bertolazzi / www.itu.com.br 24 horas é pouco!
Cristina de Melo trabalha como doméstica para sustentar sozinha os três filhos pequenos
Por Camila Bertolazzi

O percentual de mulheres economicamente ativa no Brasil é de 47%, segundo uma pesquisa divulgada no ano passado. Dados como esse comprovam que muitas transformações estão acontecendo na sociedade brasileira e com certeza a principal delas gira em torno das mulheres, que cada vez mais conquistam seu espaço através de sua competência, dedicação e empenho, não medindo esforços para encarar novos desafios.
 
Se por um lado as mulheres assumiram funções importantes na esfera profissional e alcançaram posições sociais de respeito, por outro lado, na vida familiar, quase nada mudou. As tarefas domésticas ainda recaem exclusivamente sobre as costas das esposas-mães que, além de trabalhar fora para pagar as despesas – cerca de 30% das mulheres brasileiras dividem ou bancam a maioria dos gastos da casa – têm que arcar com a responsabilidade dos filhos, preparar a comida, lavar, passar e limpar. Veja um gráfico com os principais números da mulher trabalhadora!
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a tripla jornada é gerada por mudanças significativas na distribuição do tempo das mulheres. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2001 e 2005 mostram que a carga semanal de trabalho das mulheres supera a dos homens em quase cinco horas, e apontam os fatores sócio-econômicos e culturais que geram a tripla jornada das mulheres, como o cuidado com crianças e idosos, os serviços domésticos e a entrada no mercado de trabalho.
 
Apesar de reconhecerem a dura rotina, algumas dessas mulheres espalhadas por todo o Brasil encaram essa sobrecarga com coragem e disposição. Elizabeth de Fátima Moraes é um exemplo de pessoa que desempenha essa função de verdadeira super-mulher. Casada, mãe de dois filhos – um casal de 17 e 19 anos - e moradora de Itu, ela sai cedo de casa e segue direto para o trabalho, onde passa o dia resolvendo problemas da empresa que administra com o marido. A empresária admite que o dia-a-dia é bem puxado, mas afirma que encara essa dura rotina como um desafio a ser vencido. "Eu adoro tudo o que eu faço, mas é fundamental saber parar e, principalmente, separar os momentos para estar com meus filhos, com o meu marido, e também comigo mesma”.
 
Mas nem todas as mulheres estão satisfeitas com essa rotina imposta pela sociedade. Um texto de autoria desconhecida divulgado na internet questiona quais foram as verdadeiras conquistas das mulheres ao longo dos séculos que deixaram de ser Amélias (expressão usada para definir uma mulher submissa) e passaram a lutar pelos seus direitos. “Que direitos são esses? Estava tudo tão bom nos tempos das nossas avós”, escreve a autora. Leia o texto completo!
 
Maria Cristina de Melo, doméstica de 26 anos, mãe de três filhos – Felipe, Beatriz e José Victor, de cinco, três e dois anos, respectivamente – também tem essa opinião. “Eu acordo cedo, levo as crianças na creche e vou para o trabalho. À tarde, quando eu chego em casa, ainda tem que lavar, passar, cozinhar e cuidar das crianças. Antes não era assim, minha avó não fazia o que eu faço, e era muito mais feliz”, desabafa Cristina. 
 
De acordo com a psicóloga Deborah Dubner, apesar das conquistas das mulheres ao longo das décadas, houve também muitas perdas. “A mulher não pode estar o tempo todo no palco, agindo e fazendo. Ela necessita também do seu tempo para silenciar e cuidar de si mesma. Vejo uma enorme dificuldade da mulher em se permitir isso nos dias de hoje”. Leia algumas dicas para as super-mulheres!
 
Essa tripla jornada, caracterizada pelo excesso de número de horas de trabalho, pelas responsabilidades não compartilhadas com outros membros da família e, ainda, pela exigência de ser bem sucedida em todas essas atividades, gera uma série de problemas de saúde, como estresse e depressão, e um grande desgaste físico para as mulheres. Um estudo feito pelo instituto de pesquisa americano Roper Starch Worldwide mostrou que em geral, há 20% mais mulheres estressadas do que homens no mundo. A revista Época publicou dicas para ajudar as mulheres que fazem tripla jornada.
 
Conforme vários dados, as mulheres ampliaram seu espaço, mas o dia continua tendo as mesmas 24 horas. “Para que não perca os direitos adquiridos e possa usufruí-los de forma saudável, a mulher deve enfrentar um outro desafio, que é o de iniciar uma mudança de mentalidade, reformulando seu contexto familiar com a inserção de novas posturas, onde todos os membros se sintam responsáveis e compartilhem a realização das tarefas domésticas”, finaliza a psicóloga.

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