Economia & Negócios

Publicado: Quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mulheres assumem o poder

Assim como a Kirchener, ituanas estão chegando ao poder.

Crédito: Rosana Bueno / Câmara de Itu Mulheres assumem o poder
Balbina Santos é a única vereadora mulher de Itu

Por Camila Bertolazzi

A Argentina amanheceu no dia 29 de outubro do ano passado sob a liderança de uma mulher. Desde então a ex-primeira dama Cristina Kirchner - dona de uma personalidade forte e um cuidado obsessivo com a imagem - governa a nossa vizinha Argentina. Ao contrário do que muitos pensam, ela é apenas a sexta mulher a comandar um país da América Latina; a primeira na lista foi sua conterrânea Isabel Perón, em 1974.
 
Ao longo dos anos, as mulheres vêm conquistando espaços antes ocupados exclusivamente por homens. Mas mesmo com a inserção da mulher no mercado de trabalho, inclusive no meio político, dados comprovam que elas ainda enfrentam grandes dificuldades e preconceitos. Segundo o sociólogo e doutor em Sociologia Política, João José de Oliveira Negrão, mesmo com a lei que determina que, no mínimo, 30% dos candidatos deve ser mulher, muitos partidos não atingem essa porcentagem. "A chapa corre o risco de ser anulada caso esse número não seja atingido", afirma o professor.
 
Foram poucas as eleitas em 2006. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral, de um total de 2.498 candidatas, apenas 176 – três governadoras, quatro senadoras, 46 deputadas federais e 123 deputadas estaduais – foram eleitas. Os resultados mais preocupantes são das Assembléias e Câmaras Legislativas. O total de mulheres eleitas em nível estadual diminuiu em relação às eleições de 2002, quando 133 cadeiras foram ocupadas por elas. Em São Paulo, e em outros 17 estados, o número de nomeadas para os cargos públicos representa pouco mais de 10%.
 
Os dados para candidatura de mulheres às Assembléias já vinham apontando este fenômeno da retração, que se mantém quanto às mulheres eleitas. Ainda que algumas deputadas estaduais tenham participado das últimas eleições como candidatas a deputada federal, há uma hipótese de que este nível local possa estar mais difícil e fechado para a entrada das mulheres, o que pode ser explicado em grande parte pelos elevados gastos das campanhas eleitorais, os quais são de origem privada.
 
Para o eleitor Rafael Moraes, de 17 anos, esses números também podem estar ligados ao preconceito no meio político, pois ainda é grande a quantidade de pessoas que acham que a política é direcionada exclusivamente para homens. “Tenho muitos amigos que dizem não votar em mulheres porque elas não têm a mesma capacidade que os homens, eu acho isso ridículo, acho que as mulheres têm uma garra muito maior e, com certeza, seria muito bom ver o Brasil sendo governado por uma mulher”.
 
Apesar da política ainda ser um universo ocupado predominantemente por homens, de alguns anos para cá, observa-se o fortalecimento da participação feminina na política brasileira. Antes existia um desequilíbrio muito grande na sociedade, onde apenas os homens podiam ocupar postos importantes e era muito comum se dizer que "política é coisa para homem". Aos poucos a mulher está provando que pode estar ao lado do homem, em pé de igualdade, formulando e colocando em prática as políticas públicas de interesse da população.
 
Segundo a Deputada Estadual Maria Lúcia Amary (PSDB), quando a mulher se posiciona com firmeza e competência, o respeito e a valorização ocorrem naturalmente. "O preconceito não deve servir de motivo para intimidação, afinal já progredimos muito em relação às últimas décadas. Deve sim ser encarado como um desafio a ser vencido, para o bem das próximas gerações".
 
Maria Lúcia disse ainda que a mulher tem um olhar diferenciado para as questões sociais e um jeito conciliador que fazem a diferença no meio político. "O desafio é diminuir as distâncias sociais. Para isso, precisamos lutar pelo fortalecimento das mulheres através de acesso a mandatos públicos, os quais possam efetivamente fazer a transformação social pela política". Balbina de Oliveira de Paula Santos, vereadora pelo PSC em Itu concorda com a deputada. "Nós ainda necessitamos de maior engajamento feminino na política, a fim de elegermos mais vereadoras, prefeitas, deputadas, governadoras, senadoras e, porque não, uma presidente".
 
Homens e mulheres certamente têm a mesma competência para desempenhar qualquer função. No entanto, Balbina acredita que a sensibilidade feminina tem um papel fundamental no desenvolvimento do trabalho político. "Creio que a mulher possui mais sensibilidade para ouvir e compreender as reais necessidades enfrentadas diariamente pelos cidadãos". Maria Lúcia acrescenta à sensibilidade, o senso de justiça, e afirma que juntos eles promovem mudanças significativas em qualquer setor da sociedade. "A mulher é conciliadora e tem a capacidade de interagir e resolver situações simultaneamente, assume várias funções ao mesmo tempo".
 
Jornada Dupla

Além da responsabilidade com os eleitores, a mulher também precisa conciliar outros diferentes papéis exercidos por ela na sociedade. Mãe, esposa, dona-de-casa e profissional são apenas alguns exemplos das várias faces assumidas por elas no dia-a-dia. "Nós mulheres temos grande capacidade de administração e organização, pois somos capazes de, ao mesmo tempo, cuidar da família, da casa, trabalhar fora e ainda solucionar os problemas do dia-a-dia com tranqüilidade e bom senso", afirma a vereadora Balbina.
 
Segundo a Deputada Estadual e líder do Partido Verde (PV) em Itu, Rita Passos, a vida para quem quer se aventurar na política não é tão simples como parece. "É preciso trabalhar, batalhar, lutar e ir atrás daquilo que se quer." A tarefa de conciliar todos os papéis da mulher não é nada fácil. Mas, desde que alguém se proponha a representar os eleitores, é preciso se dividir e se dedicar ao máximo para colher resultados positivos em todas essas áreas. "A recompensa de se trabalhar na política vem com a satisfação de se sentir bem, útil e estar produzindo algo em benefício de outros. É preciso tentar, arriscar, traçar metas. Isso com certeza lhe trará o caminho para o sucesso na política", aconselha a deputada.
 
As histórias políticas das duas principais deputadas da região são bastante parecidas, e se assemelham às biografias de grandes nomes na política mundial: Cristina Kirchner e a pré-candidata Hilary Clinton. Maria Lúcia Amary é esposa do ex-prefeito de Sorocaba Renato Amary. Na época como primeira-dama, ela presidiu o Fundo Social de Solidariedade da cidade, onde desenvolveu ações, o que ela mesma classifica como o pontapé inicial para a política. Em 2002, elegeu

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