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Publicado: Segunda-feira, 30 de abril de 2012

O que fazer quando a diversão vira algo nocivo?

Jovens e crianças podem se viciar em videogame.

Crédito: Arquivo pessoal de Alina Bonini O que fazer quando a diversão vira algo nocivo?
Alina reserva de oito a dez horas de seu dia para jogar videogame

Por Tamara Horn

Jogar videogame pode ser uma atividade extremamente prazerosa para jovens e crianças. Mas existe um ponto em que este simples momento de lazer se torna uma compulsão. É importante então tomar cuidado e abrir os olhos para que jogos não se tornem um vício. O que fazer quando a diversão vira algo nocivo?

A psicopedagoga e colunista do Itu.com.br, Mércia Falcini, explica que tudo que é excessivo desequilibra o ambiente e as relações. “Vivemos num contexto amplo de facilidades tecnológicas. Com a mesma intensidade, essas facilidades podem inspirar o bem e o mal”.

É possível diagnosticar o vício a partir de características geradas pela abstinência de substâncias ou atividades, que causam irritabilidade, desatenção, tensão, afastamento do convívio social e familiar, agressividade e violência em alguns casos. Esse mesmo quadro se aplica em crianças e adolescentes viciados em videogame.

Efeito nocivo

A estudante de fotografia, Alina Bonini, diz que é fissurada por games desde sua infância. “Como eu passava as tardes na casa da minha avó, eu levava o videogame pra me distrair, perdi a conta de quantas vezes eu zerei Alex Kidd!”. Ela revela que o auge de seu vício aconteceu ao jogar The Sims 2 e 3. “Passava horas intermináveis no computador e ia dormir pensando no que eu ia fazer com os Sims no dia seguinte”.

Alina reserva de 8 a 10 horas de seu dia para jogar videogame. “A maior parte do tempo eu passo pensando em jogos, como um comedor compulsivo passa pensando em pizza. Fico muito brava quando não consigo passar alguma fase, tanto por falta de vidas quanto por falta de técnica! Brigo com o computador ou com o jogo várias vezes”.

As pessoas viciadas podem estar querendo fugir da realidade. “A complexidade existencial nos leva a buscar constantemente recursos que liberem endorfina no cérebro para aliviar emoções e tensões. Exercício físico, Internet, chocolate ou videogame são formas de compensar o stress da realidade. E são todos recursos necessários, até que nos tornem dependentes. A dependência é que nos tira da realidade”, afirma a psicopedagoga.

Ela também explica que as pessoas têm mais facilidade de ficarem viciadas quando se simpatizam com os traços de personalidade do personagem do jogo favorito. “Crianças e adolescentes experimentam sensações de medo, ansiedade, coragem, angústia, tédio, euforia e insegurança em profundas proporções. Por isso as transferências acontecem. Elas precisam emprestar a força e poder dos super-heróis ou ídolos para suportar as transformações do desenvolvimento humano”.

Também é válido lembrar que a compulsão pode atrapalhar diversos setores da vida, seja educacional, profissional ou amoroso. A estudante, por exemplo, conta que deixou de fazer lição de casa por um bom tempo no Ensino Fundamental. Agora, que está na faculdade, joga meia hora a menos para poder estudar. Apesar do impasse, ela revela que em outros aspectos, como na vida amorosa, por exemplo, nunca sofreu problemas. “Meu namorado também é viciado em jogos. A gente joga muita coisa juntos, menos Mario Kart, ele não gosta porque eu ganho a maioria das vezes”, brinca.

Como lidar com a situação?

Os pais devem ficar sempre atentos aos filhos. A presença e a disponibilidade dos pais em educar os filhos são fundamentais. “Muitos pais usam o vídeo game como babas, aliviando o processo educativo, que é trabalhoso e cansativo”, diz Mércia. Ela ainda completa “Somente pais atentos e presentes serão capazes de observar a compulsão dos filhos a tempo de evitar o vício. Nessa hora é fundamental oferecer outras atividades no lugar e que possam concorrer na mesma intensidade: como intercalar o uso do videogame com a pratica de esportes, passeios de bicicleta ou aulas de inglês”.

Os pais de Alina, no início, reclamaram do comportamento da filha. “Meu pai chegou a falar alguma coisa, durante o processo de divórcio deles. Ele dizia que eu só ficava na frente do computador ou do vídeo game e não ligava pra família. Até achei que a separação fosse culpa minha, mas depois eu vi que era coisa deles e que na raiva disseram bobagem”, desabafa a jovem.

A mãe da jovem, Rosangela Venturini, diz que não acha saudável o comportamento de Alina mas diz que o videogame entrou cedo na vida da garota. "Jogos eletrônicos sempre estiveram presentes na vida da Alina, desde muito pequena ela trocava os brinquedos por eles. Mas foi só quando tinha uns 12 anos que isso virou quase um vício, dificilmente saia do computador”.

Como evitar o vício?

A psicopedagoga explica que é importante estabelecer regras para o uso do videogame, estabelecendo um horário a seguir - preferencialmente depois do cumprimento das responsabilidades escolares. “Essa atitude, além de conter o vício, colabora para o desenvolvimento da responsabilidade: primeiro o trabalho, depois a diversão. Mas, aqui vale um alerta: não adianta proibir sem oferecer nada no lugar. Crianças e adolescentes precisam se ocupar com atividades estimulantes ao desenvolvimento físico, mental e emocional”, conclui.

Meu filho é viciado. E agora?

É preciso buscar ajuda de um profissional. O psicólogo está preparado para avaliar o histórico familiar e propor ações efetivas na solução do problema. “Muitas famílias que tentam resolver o problema sem orientação profissional, acabam agravando a situação. Precisamos tomar consciência de que os problemas da infância e adolescência não passam naturalmente como acreditam alguns pais”, analisa Mércia.  

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