Publicado: Domingo, 19 de julho de 2009
Itu, berço da República. E do futebol
Saiba porque Itu é tão importante para o futebol nacional.
Rodrigo Gasparini
Por Rodrigo Gasparini
Nesta quinta-feira, 19 de julho, comemora-se o Dia Nacional do Futebol. A data foi estabelecida em homenagem à fundação, em 1900, do Sport Clube Rio Grande. A equipe gaúcha existe até hoje e é considerada a primeira agremiação futebolística a registrar-se como um clube no país.
Nesta quinta-feira, 19 de julho, comemora-se o Dia Nacional do Futebol. A data foi estabelecida em homenagem à fundação, em 1900, do Sport Clube Rio Grande. A equipe gaúcha existe até hoje e é considerada a primeira agremiação futebolística a registrar-se como um clube no país.
Esporte bretão, caixinha de surpresas, onze contra onze, paixão nacional, esporte das multidões, futiba, pelada, peleja. Até de ópio do povo já fora chamado. Definições não faltam para este jogo que está tão enraizado no coração e na alma do brasileiro: o futebol.
Chegou ao Brasil em 1894, de carona com Charles Miller, brasileiro que ainda criança foi estudar na Inglaterra, conheceu o esporte e resolveu trazê-lo à sua terra natal. Quando desembarcou do navio que o trouxe de volta, Miller tinha na bagagem duas bolas usadas, uma bomba para enchê-las, um par de chuteiras, um livro de regras e duas camisas de clubes ingleses.
Não demorou para que aquele jovem filho de escocês com uma brasileira de ascendência inglesa, nascido em berço esplêndido para a época e frequentador da elite paulistana, convencesse outras pessoas a praticarem o jogo que havia conhecido na Inglaterra.
E em 1895, na Várzea do Carmo, ocorria a primeira partida de futebol da história do Brasil. De um lado, os funcionários da Companhia de Gás. Do outro, os trabalhadores da Estrada de Ferro São Paulo Railway, que saíram de campo vitoriosos: 4 a 2.
Esta é a história oficial.
Corta a cena. Fecha a cortina. Muda o ato.
Itu, 1880. Uma delegação de padres jesuítas do Colégio São Luiz retorna de excursão à Europa. O objetivo era conhecer novas modalidades esportivas que pudessem ser praticadas ao ar livre e oferecê-las aos jovens, para que – inconscientemente – eles parassem de ter pensamentos, digamos, menos nobres.
A sugestão de apelar para as atividades físicas seria dada também, dois anos depois, pelo então deputado Rui Barbosa a ninguém menos que o imperador Dom Pedro II, como forma de combater o analfabetismo no país, que naquela época chegava à casa dos 84%.
No Velho Mundo, os padres passaram pela Inglaterra e conheceram o futebol. Trouxeram de volta consigo duas bolas e introduziram uma versão do jogo entre os alunos do Colégio, que funcionava onde hoje está localizado o Regimento Deodoro.
Num primeiro momento, sob o comando do padre italiano José Mantero, sacerdotes e alunos jogavam uma espécie de futebol “pré-histórico”. O jogo não tinha equipes formadas e consistia apenas de um bate-bola na parede. Embora conhecessem o “verdadeiro” futebol, pois o haviam visto em solo inglês, os padres preferiram ensinar uma modalidade que não pressupunha competição, mas apenas o desenvolvimento físico dos filhos da elite paulistana, membros do Colégio ituano.
A história está relatada no livro “Visão do jogo – primórdios do futebol brasileiro”, do historiador José Moraes dos Santos Neto. É ele quem explica, também, que foi em 1894 – mesmo ano do retorno de Charles Miller ao Brasil – que um novo reitor assumiu o comando do Colégio São Luiz. Era o padre espanhol Luiz Yabar. Com ele, o jogo tomou forma. Quatro times de 11 jogadores foram formados entre os alunos, que ganharam um par de traves e um campo demarcado.
Pronto. Itu, que 21 anos antes havia sediado a Convenção Republicana e por isso gravaria seu nome na história do Brasil, era também um dos berços do futebol nacional.
Os relatos da época dão conta de que o jogo praticado no campo do Colégio São Luiz tinha como único objetivo o desenvolvimento físico dos alunos. Não havia espírito de competição e ninguém se interessava em divulgá-lo além dos muros da escola.
É por isso que Charles Miller tornou-se tão famoso como o único responsável pela implantação da modalidade no país. Segundo o historiador José Moraes dos Santos Neto, Miller levou o esporte para dentro dos clubes e trabalhou para fundar a primeira liga de São Paulo, uma espécie de embrião do que é hoje a Federação Paulista de Futebol. Não fosse ele, talvez o futebol fosse praticado até hoje apenas como uma forma de recreação e atividade física, e não como uma disputa propriamente dita.
Corta a cena. Fecha a cortina. Muda o ato.
Padres do colégio São Luiz, Rui Barbosa, José Mantero, Luiz Yabar, Charles Miller... São muitos os nomes – e as versões – de como o mais esporte popular do Brasil começou a ser praticado por aqui. Há quem jure, por exemplo, que marinheiros estrangeiros já tinham batido uma bolinha nas praias nordestinas. Ou até que índios tupiniquins davam chutes em cocos.
O certo mesmo é que Itu tem seu nome gravado na história, por ser um dos responsáveis pela implantação do futebol em território brasileiro. História comprovada e documentada nos anais do Colégio São Luiz.
E quem dá um chute na bola em Itu, seja em um estádio cheio de torcedores ou na disputada da pelada de rua em que as traves são formadas por meros chinelos de dedo, está repetindo o mesmo gesto que um grupo de padres e estudantes faziam há 130 anos. E que deu mais um motivo para a cidade tornar-se tão importante na história deste lugar chamado Brasil, ou, simplesmente, o país do futebol.
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