Ituano 66 anos: Juninho Paulista, ídolo dentro e fora de campo
Pentacampeão do mundo agora é dirigente do Galo.
André RoedelPor André Roedel
Oswaldo Giroldo Júnior é o maior ídolo da história do Ituano Futebol Clube. Mesmo não sendo campeão pelo Galo, ele fez a alegria da torcida rubro-negra no início da década de 1990, livrou o time do rebaixamento no Paulistão de 2010 e hoje renova a administração do clube, um dos mais organizados do interior do Estado de São Paulo. Ainda não ligou o nome à pessoa?
É claro que estamos falando de Juninho Paulista, atual gestor do Ituano, que iniciou sua carreira como jogador profissional no Galo. O pentacampeão mundial recebeu a equipe do Itu.com.br na sede do clube, e cedeu entrevista para a série especial de aniversário do rubro-negro – que completa 66 anos em 24 de maio.
O início no Galo
A vinda de Juninho, que nasceu em São Paulo, para Itu foi “por acaso”. “Eu participava de um clube de várzea de São Caetano do Sul (SP), daí eu fiz uma preliminar do juvenil do Ituano contra a Ponte (Preta, de Campinas). O treinador José Rubens estava observando e me convidou, juntamente com mais dois jogadores, pra fazer um teste”, conta Juninho.
“Na realidade eles gostaram de um e praticamente eu e mais um jogador viemos de contrapeso”, explica o ex-atleta. Juninho ficou em Itu durante 10 dias passando por testes e acabou agradando a comissão técnica do Galo. “Eu fiquei dois anos jogando em categorias de base e, em 1992, fiz parte do elenco profissional no Campeonato Paulista, mas joguei somente algumas partidas. No segundo semestre, voltei para a base”, relata.
Em 1993, o treinador Arthur Neto chamou Juninho para integrar o grupo profissional mais uma vez. O jovem jogador agarrou a oportunidade e disputou todas as partidas, chamando a atenção de grandes clubes do Brasil. Foi aí que Telê Santana, experiente treinador, pediu a contratação do então garoto para o São Paulo, que viu sua carreira despontar.
O bom filho a casa torna
Depois de passar por Middlesbrough (onde se tornou ídolo), Atlético de Madri, Vasco da Gama, Celtic, Palmeiras, Flamengo (em duas oportunidades) e Sydney (da Austrália), além de conquistar a Copa do Mundo de 2002 vestindo a amarelinha, Juninho acerta, em 2009, seu retorno ao Ituano, mas como gestor de futebol. Novo desafio na carreira do atleta multi-campeão.
“Tinha voltado da Austrália e estava seis meses parado. Não gostaria de sair do meio do futebol, nem de ser treinador e dirigente de clubes grandes. Foi aí que surgiu a oportunidade de administrar o Ituano. Como eu tinha identificação com o clube e a cidade, uni o útil ao agradável”, conta Juninho, que retornou ao Galo em junho de 2009.
Juninho não havia feito uma despedida formal dos gramados. Seus últimos momentos como jogador profissional, no inexpressivo clube australiano, não faziam jus à sua carreira. Então, para oficializar sua aposentadoria como jogador de futebol, ele aceita disputar o Campeonato Paulista de 2010 pelo Ituano.
Despedida dramática
E a despedida de Juninho Paulista ganhou tons de melancolia. Nas últimas rodadas do Paulistão, o Ituano acumulou uma série de derrotas e chegou à rodada derradeira com grandes chances de ser rebaixado para a Série A-2. “Tomamos uma goleada do Santos no Pacaembu e foi aí que começou a desandar”, comenta Juninho.
A parada final era dura: a Portuguesa, que tinha chances de classificação para a fase final do campeonato e jogava em seu estádio, o Canindé. “Eu me lembro que tinha uma tensão muito grande”, lembra o então jogador. “Nosso primeiro tempo foi muito ruim. Lembro que eu e o Roque Junior conversamos no intervalo, teve discussão no bom sentido, pra mexer com o nosso brio”, relata. “Os jogadores não estavam percebendo a importância que era pra mim e para o Ituano permanecer na primeira divisão”, disse Juninho.
Perdendo por 2 a 0, o Galo volta do intervalo com outra postura. Logo no início da segunda etapa, o próprio Juninho Paulista marcou um golaço de fora da área, colocando esperança no grupo. Lincoln empatou pouco tempo depois. A virada saiu dos pés de outro pentacampeão mundial, o zagueiro Roque Junior. Vitória do Ituano, livre do rebaixamento. Na oportunidade, Juninho disse às emissoras de rádio e TV que se aposentava de cabeça erguida.
Atenção às categorias de base
Penduradas as chuteiras oficialmente, Juninho voltou a se dedicar exclusivamente à administração do Ituano. Uma das ações iniciais de sua gestão foi a reativação das categorias de base. “Eu acho que é essencial pra qualquer clube de futebol (as categorias de base). Ela é o alicerce de um clube, porque esses jogadores do juvenil serão os jogadores do futuro do Ituano”, explica Juninho.
“É legal a gente ver um Marcão (atacante revelado na base do Galo) entrando e marcando gol decisivo, porque as pessoas vêem que é esse objetivo, que é revelar jogadores a cada ano”, conta o dirigente. Juninho também relembrou importantes jogadores que foram revelados na base rubro-negra, como Richarlyson, Pierre e ele próprio.
As dificuldades como dirigente
Administrar um clube do interior paulista, que disputa uma competição importante no primeiro semestre e fica quase que ocioso no segundo, não é tarefa fácil. “Aí entra o planejamento. A gente tira as coisas ruins e tenta transformar em coisas boas. A visibilidade da Copa Paulista não é tão grande quanto o Paulistão, mas nos dá a oportunidade de ver os nossos jovens”, conta Juninho.
Juninho, como ele mesmo diz, pegou o clube do zero. “O clube tinha saído de uma parceria com a Traffic, que desativou as categorias de base por já ter as dela. Quando eles devolveram o Ituano, eles devolveram sem condições. Quando eu peguei o Ituano tinham dois jogadores profissionais registrados”, relata. “Aí foi uma batalha. Tive que conseguir uma equipe às pressas para disputar a Série D e a Copa Paulista, ir atrás de materiais esportivos, de bolas, atrás de um mínimo de condições de trabalho”, desabafa o dirigente. “Aos poucos eu fui acertando tudo”, conta.
A carreira como jogador trouxe vários ensinamentos para o dirigente Juninho. “Por ter passado como jogador, a gente sabe como é a cabeça do jogador, sabe o que precisa pra ele fazer o seu melhor”, conta. “Em termos de administração, eu tenho o exemplo da Inglaterra, onde é tudo profissionalizado, com pessoas competentes dentro de cada setor”, prossegue.
Relação com o torcedor
Uma das metas de Juninho quando assumiu a gestão do Ituano foi melhorar o relacionamento do torcedor, que praticamente não comparecia nas partidas do clube. Com promoções de ingresso e outras ações de marketing, principalmente as realizadas neste Paulistão, isso se tornou possível. “Desde quando cheguei eu senti o Ituano muito afastado dos moradores da cidade, e isso na minha época não tinha”, conta o dirigente.
“Isso me causou certa preocupação. Desde o começo da minha administração eu sempre bati na tecla de que a gente precisava resgatar esse interesse do povo de Itu”, complementa Juninho. Neste Paulistão, o clube lançou um pacote de ingressos com preço promocional, que culminou num aumento da média do público. “O torcedor ia ao campo muito frio, não vibrava, e esse ano eu percebi isso, senti muita vibração, em vários jogos o torcedor apoiando a equipe”, conta o dirigente, satisfeito.
“Os torcedores estão cada vez mais acreditando no projeto do Ituano”, disse Juninho, que pede que a confiança seja mantida. “O Ituano é um clube que está cada vez mais sólido, cada vez mais com condições de trabalho e (eu peço) que eles (torcedores) possam nos apoiar cada vez mais, pois eles são muito importantes”, finaliza o dirigente, que segue confiante com seu trabalho à frente do Galo.