Bem estar

Publicado: Sábado, 30 de julho de 2011

Você tem medo de quê?

Segundo a OMS, 10 milhões de brasileiros sofrem com fobia.

Você tem medo de quê?
O elevador é temido por muitas pessoas

Por Camila Bertolazzi

Você tem medo de ser observado por pato? Parece loucura, mas acredite, existe inclusive um nome técnico para as pessoas que se apavoram só em pensar na situação: anatidaefobia. As fobias, que para muitos não passam de uma piada, não param por ai. Há quem tenha medo de flores, de ser tocado, de fezes, dos cristãos, de beijar, do numero 8, de sentar-se, de pensar e até medo da falta de fobias.

A lista de denominações é longuíssima e, algumas delas, apesar do nome complicado, fazem parte do dia-a-dia de muita gente. Por exemplo, quem não tem medo de morrer, de barata, de sapo, ou até mesmo de falar em público?

A fobia, caracterizada por um medo irracional e persistente de um objeto, atividade ou situação específica, atinge mais de 10 milhões de brasileiros, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo que as mulheres são responsáveis por quase 70% desse número.

Segundo o psiquiatra Davi Kaloglian, diretor do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Itu, na sua maioria, a fobia tem origem no ambiente familiar. “Se sua mãe é a pessoa que te protege e ela tem medo de alguma coisa, você passará a tê-lo”. E completa: “Isso não é genético, é adquirido”. No reino animal é a mesma coisa. “A influência do dono sobre seu cachorro é enorme, e o medo pode fazer parte disso”.

A estudante Grecia Baffa descobriu que tinha horror a palhaços quando ainda era criança, ao assistir espetáculos circenses. Hoje ela tem uma teoria que possa ter causado a fobia. “Lembro que eu assistia ao programa ‘Clube do Terror’, no qual crianças iam até uma floresta e acendiam uma fogueira para contar histórias. Em uma delas, uma menina fica presa num labirinto e aparece um palhaço aterrorizante”, recorda a jovem de 21 anos.

Mas os pavores de Grecia não se restringem aos palhaços. Por anos ela sofreu claustrofobia, ou seja, medo de lugares pequenos e sem muita iluminação. A estudante conta que um dos piores dias foi quando, durante uma viagem, foi ao banheiro da rodoviária com a irmã e ficou presa. “A porta tinha trancas que fecham ao contrário e não conseguia sair de lá de jeito algum. Chorei muito e só depois de uns 10 minutos vieram me socorrer”, relata.

Segundo a estudante, nas horas de surto, a primeira coisa que vem à sua cabeça é ‘como eu vou sair daqui?’. “Um dia eu estava com o meu pai e mais uma pessoa no elevador e simplesmente ele parou. Fechei os olhos e meu corpo começou a tremer, e eu chorava baixinho. Meu pai tentou me acalmar, mas eu não conseguia pensar em nada a não ser: ESTOU PRESA, ESTOU PRESA, ESTOU PRESA. Minha sorte é que a pane durou apenas alguns minutos até o gerador funcionar e o elevador voltar ao normal. Quando a luz acendeu e eu não tinha cor no rosto, fiquei em estado de choque por vários minutos”. Vertigens, pânico, palpitações e sudorese também são sintomas apresentadas por quem sofre de fobia.

Tratamento

Na marra, segundo conta Grecia, ela procurou um psicólogo que lhe ajudou a enfrentar seu medo de elevador, e carros e ônibus com muita gente. “Antes do tratamento, eu só entrava em elevadores com os olhos fechados e acompanhada – e a pessoa que estivesse comigo tinha que me dar a mão”.

Segundo o doutor Davi Kaloglian, o tratamento é a base de depressivos e ansiolíticos (anti-ansiedade) e, em casos simples, dura em média de 2 a 3 meses. Há ainda acompanhamento com um psicoterapeuta comportamental que ajuda a encarar os medos enfrentando-os de frente. No Caps de Itu o paciente encontra assistência psiquiátrica e os remédios necessários. Mas nem todos precisam de tratamento. “Muitas pessoas convivem com o medo normalmente, o problema é quando ele traz sofrimento e faz com que o rendimento da pessoa caia”, explica.

Assim como fez com a claustrofobia, Grecia também tentou acabar com o pavor por palhaços, mas não teve sucesso. “Não tenho palavras para descrever a sensação. Meu corpo é tomado por pânico, eu gelo, e automaticamente começo a chorar”, descreve. “A minha vontade, quando vejo um palhaço, é sair correndo e me esconder”.

A estudante se encaixa nos casos de pessoas que precisam de tratamento. “Sei que eu preciso conter esse medo, mas ao ver uma pessoa com o rosto pintado de branco, a boca larga vermelha e olhos grandes, fico histérica. Só de pensar já me escorreu uma lágrima de nervoso. Para mim, o palhaço não é uma figura amiga, ele é do mal, feito para aterrorizar crianças”, finaliza.

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