Itu está em luto. Morre organizador do Estouro de Judas na cidade
Zico Granda foi enterrado no cemitério municipal.
Jéssica Ferrari
Apesar dos três dias oficiais, Itu ainda se sente em luto devido à morte do fogueteiro Amador Ferreira Gandra Filho (Zico Gandra). O artista faleceu na madrugada do dia 10 de junho, aos 95 anos, vítima de insuficiência respiratória e falência de múltiplos órgãos. O enterro do artista aconteceu no mesmo dia, no Cemitério Municipal de Itu.
Segundo Ivone Gandra, uma de suas três filhas, Zico havia caído e quebrado o fêmur quinze dias antes de sua morte. Devido a idade, não foi possível a realização da cirurgia e o artista foi obrigado a voltar para a casa. "Ele não aguentou a cama e nos deixou. Meu pai foi um grande homem, é muita saudade!", lamenta Ivone.
A representante da Prótur, Bia Sioli, comentou a perda do artista para a cidade. "Falar de Zico Gandra é fácil! Difícil foi aceitar seu afastamento nos últimos estouros. Difícil é acreditar na definitiva ausência para os próximos. Nem Judas será o mesmo. Deus afinal continuará vitorioso. Mas de maneira diferente. Nós ituanos no fundo, sabemos, sentimos isso. Zico soube transformar o ritual do estouro do Judas num evento popular importante para nossa cidade. Com sua arte divulgou Itu como poucos. Mas trouxe muitos! A saudade do barulho infernal da sua festa, seguirá em minhas mais ternas lembranças!
Veja também a homenagem do Ex-Prefeito de Itu, Lázaro Piunti, para Amador Ferreira Gandra Filho.
História
Conhecido como Zico Gandra, o artista é lembrado pelos ituanos quando o assunto é “Estouro do Judas”. Pela idade avançada, ele já não fabricava mais os fogos, porém o nome foi à frente de sua equipe, que aprendeu com ele a confecção das bombas e levou a tradição adiante.
No entanto, aproximadamente há três anos, sua autorização para armazenamento dos fogos foi caçada, dificultando ainda mais a continuidade de seu trabalho. Este ano foi a primeira vez que uma empresa de Indaiatuba, fabricante de fogos, se responsabilizou por fazer o evento. Muitos ituanos são contrários a esta decisão, pois acham importante manter a tradição e continuar a prestigiar Gandra e sua equipe que sempre foi fiel à tradição de Itu.
O “Estouro”!
A história conta que em 1985, um artista pirotécnico machucou suas mãos com uma bomba que tinha fabricado e a partir dessa data resolveu fazer todos os anos um boneco recheado de pólvora, representando Judas, e queimá-lo.
Quando este artista se mudou de Itu, o estouro do Judas ficou por conta dos irmãos Joaquim e Inácio Corneta, que não deram assiduidade à festa, sendo interrompida algumas vezes. Os irmãos Parnaíba assumiram o cargo quando aqueles faleceram, e fizeram transformações no espetáculo, adicionando a imagem do diabo em meados de 1910.
Em 1931, o Sr. Zico Gandra fez seu primeiro Judas, que foi queimado com querosene, paralelamente ao boneco oficial que se queimava na Praça Miguel. Em 1938, ele assumiu o cargo de responsável pelo evento, dando continuidade até 2003, sempre inovando e aprimorando o sistema de confecção do Judas.
A manifestação cultural está registrada no livro Guinness dos recordes, desde 2006 e atrai anualmente milhares de turistas para a cidade.