Cultura

Publicado: Terça-feira, 8 de abril de 2008

Tributo ao cidadão Tristão Mariano

Por Allie Marie Dias de Queiroz
 
O Maestro Tristão Mariano da Costa não merece ser lembrado apenas como compositor ou mestre-capela da Igreja Matriz. Em um tempo que toda vida comunitária acontecia em torno das práticas de devoção, das festas e procissões, novenas e infindáveis missas em latim, Tristão foi um dos mais inspirados entre os mestres ituanos.
 
Tristão foi também um cidadão de larga visão e rara sensibilidade para o coletivo, foi professor, político e jornalista.
 
Em todas as atividades expressou suas convicções e visão de mundo. Na política foi vereador idealista, preocupado em articular políticas públicas na educação e no planejamento urbano. Já naquele tempo, 1883, o abastecimento de água da cidade representava um desafio que pedia solução urgente.
 
Apoiado em estudos do engenheiro Paula Souza, Tristão consegue aprovar na Câmara a construção de reservatório de água na atual Praça Conde de Parnaíba, talvez a primeira grande obra de interesse coletivo feita em Itu.
 
Também pensou e agiu para propiciar o acesso e universalização da educação, desenvolvendo métodos de ensino para alfabetização, formação técnica e de música. Criou diversas escolas, nos moldes do que, em breve, seriam adotados pelas escolas públicas; foi professor dos filhos de operários e escravos e ainda organizou uma biblioteca para atendê-los.
 
Cidadão atuante e inquieto, através do Jornal A Federação, com o qual colaborou nos primeiros tempos, propunha questionamentos e reflexões sobre os conflitos que a modernidade desenhava lentamente naquele início de século; impunha a uma Itu, que crescia e clamava por medidas ágeis em favor da população, soluções imediatas.
 
Não consigo separar as várias faces de Tristão. Ele era múltiplo e colocava seu talento em tudo que fazia. A criatividade do músico, a fé inquebrantável do católico, a habilidade com as palavras e sua verve política acrescentam qualidades imensuráveis à obra de toda uma vida que ofereceu, com generosidade, a Itu.    
 
O sentimento que Tristão me desperta, cem anos após sua morte, é enlevação ao ouvir suas músicas, habilidosamente harmonizadas, que ainda ressoam pelas ruas e becos por onde costumava passar e que continuam a fazer parte do nosso caminho de todo dia.
 
E, sobretudo, admiração ao contemplar sua atuação como cidadão. Admiração pela firmeza com que lutou por tudo o que acreditava, pela retidão e ética com que defendeu o bem comum, seus princípios e convicções religiosas, políticas e educacionais.
 
É um dos “homens bons” da história de Itu. Viveu entre grandes pares, acreditou sempre que era possível fincar alicerces para uma cidade mais justa e digna.
 
Que Tristão Mariano da Costa seja, hoje, o espelho no qual figuras públicas busquem exemplo, inspiração e determinação.
Comentários