Publicado: Quarta-feira, 28 de maio de 2008
História da Imprensa no Brasil
Camila BertolazziTexto transcrito do livro "História da Imprensa no Brasil",
De Nelson Werneck Sodré
Jornal oficial, feito na imprensa oficial, nada nele constituía atrativo para o público, nem essa era a preocupação dos que o faziam, como a dos que haviam criado. Armitage situou bem o que era a Gazeta do Rio de Janeiro: “Por meio dela só se informava ao público, com toda a fidelidade, do estado de saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em quando, as suas páginas eram ilustradas com alguns documentos de ofício, notícias dos dias natalícios, odes e panegíricos da família reinante. Não se manchavam essas páginas com as efervescências da democracia, nem com a exposição de agravos. A julgar-se do Brasil pelo seu único periódico, devia ser considerado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado um só queixume”.
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Papel específico teve, sem dúvida, o Correio Brasiliense, mas é discutível a sua inserção na imprensa brasileira, menos pelo fato de ser feito no exterior, o que aconteceu muitas vezes, do que pelo fato de não ter surgido e se mantido por força de condições internas, mas de condições externas. Hipólito da Costa justificou-se de fazer no estrangeiro o seu jornal: “Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos”. Razões óbvias: teria sido mesmo difícil, senão impossível, manter folha imune à censura, aqui, no início do século XIX. Mas não é isso que suscita a dúvida. Muitos exilados fizeram jornais fora dos seus países, como forma e meio de participar de suas lutas internas. Tais jornais, como o Correio Brasiliense, entravam clandestinamente onde deviam entrar. O que lhes dava o caráter nacional era a estreita ligação com as condições internas em que procuravam também influir; a imprensão no exterior era circunstância. A questão fica mais clara quando se considera o jornal de Hipólito – do tipo doutrinário e não do tipo noticioso – como ângulo externo de ver o Brasil, perspectiva externa: todos os nossos grandes problemas foram por ele tratados muito mais segundo as condições internacionais do que nacionais.
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Hipólito da Costa fundou, dirigiu e redigiu o Correio Brasiliense, em Londres, durante todo o tempo de vida do jornal. O número inaugural deste apareceu a 1º de junho de 1808, três meses antes, portanto, da data em que surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro na Corte. Aceitando o jornal de Hipólito como integrado na imprensa brasileira, seria, consequentemente, a data de aparecimento de seu primeiro número o marco inicial, naturalmente, do nosso periodismo. Já dois números do Correio Brasiliense circulavam, e possivelmente no Brasil – considerando o tempo do transporte marítimo dos portos ingleses aos brasileiros, na época da navegação à vela – quando, a 10 de setembro, apareceu o número inicial da folha dirigida por frei Tibúrcio. Além do problema da precedência, há que considerar, no caso, que eram diferentes em tudo, mesmo pondo de lado a questão da orientação, quando a diferença chegava quase ao antagonismo. Representavam, sem a menor dúvida, tipos diversos de periodismo: a Gazeta era embrião de jornal, com a periodicidade curta, intenção informativa mais do que doutrinária, formato peculiar aos órgãos impressos do tempo, poucas folhas, preço baixo; o Correio era brochura de mais de 100 páginas, geralmente 140, de capa azul escuro, mensal, doutrinário muito mais do que informativo, preço muito mais alto.
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