Cinema

Publicado: Quarta-feira, 12 de novembro de 2008

À meia-noite levarei a sua alma

Leia a crítica do primeiro filme do popular Zé do Caixão!

À meia-noite levarei a sua alma
O personagem é riquíssimo tanto em sua crueldade, quanto na inteligência e na complexidade
Por Guilherme Martins
 
O primeiro filme exibido no Cinema Mundo foi À meia-noite levarei a sua alma (1963), do cineasta brasileiro José Mojica Marins, o popular e sinistro Zé do Caixão. Confesso que estava extremamente ansioso para ver o seu primeiro filme, que mais tarde daria origem à sua Trilogia do Terror, composta por mais dois outros filmes, que são Esta noite encarnarei no teu cadáver (1967) e por último o recente e bem comentado, A encarnação do demônio (2007).
 
Logo no início do filme, somos “amaldiçoados” por uma praga do personagem Zé do Caixão, e depois por uma bruxa que aconselha a todos que têm medo de histórias de fantasmas, mortes e espíritos, a saírem do cinema. Então o filme começa e logo nos primeiros quinze minutos, já começamos a ter uma pequena noção do porquê o ele foi considerado tão assustador na época.
 
O personagem de Zé do Caixão é um dos mais hereges que eu já vi na vida, fazendo piada de tudo que é sagrado, como na cena em que quer comer carne de carneiro em plena sexta-feira santa. “Pouco me importa se hoje é dia dos santos ou dos demônios, eu vou comer carne e nenhum carochinha irá me impedir!”. Sua esposa aconselha a não fazer isso, pois o diabo poderia estar olhando a sua maldade e ele responde: “Se eu cruzar com o diabo no caminho, o convido para jantar”.
 
O público não sente aversão por personagens maléficos assim e, muitas vezes, acaba até se identificando e criando afeição por esses vilões, como no caso de Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo), Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica) ou Jason Vorhees (Sexta-feira 13) pela ousadia ou pela forte personalidade deles.
 
Com o Zé não é diferente. O personagem é riquíssimo tanto em sua crueldade, quanto na inteligência e na complexidade. E por falar em violência, percebe-se pelo filme, que José Mojica é um homem de grandes idéias e embora hoje em dia o filme não seja tão violento diante de outros como Jogos Mortais ou O Albergue, no ano de 63 ver um homem arrancar os olhos de alguém com as unhas ou ferir alguém no rosto usando uma coroa de espinhos de uma estátua de Cristo deveria ser uma novidade e tanto, que possivelmente tirou o sono de muita gente.
 
E as idéias não param por aí. No trailer do novo filme, Encarnação do Demônio, podemos ver uma mulher sair de dentro de um porco, um homem ser preso por ganchos enfiados em sua pele e Zé do Caixão transando com uma mulher em um quarto inundado de sangue. Certamente não é um programa para quem tem estômago fraco.
 
Aos amantes do bom terror, o filme é um clássico e alegra os fãs ao mostrar que o cinema nacional pode proporcionar boas e revolucionárias surpresas no gênero.
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