Publicado: Quinta-feira, 16 de abril de 2009
Cando critica extração ilegal de rochas de granito
Camila Bertolazzi
Apesar de muitos verem-las como simples pedras gigantes, as rochas de granito, muito comum na região, são bem mais que isto. Elas são um registro de uma grande intrusão vulcânica ocorrida por volta de 540 – 560 milhões de anos, se estendendo desde o Rio Capivari Mirim, ao norte (Indaiatuba - Itupeva), até as margens do Rio Tietê, entre Itu e Cabreúva a sudeste.
São comuns os campos de Matacões (aglomerados de rochas) em toda esta região localizada em terrenos de rocha homogênea, onde ocorreu esfoliação esferoidal e a retirada do solo residual que existia entre os Matacões por erosão, causadas por processos naturais de chuvas, ventos e movimentações locais.
As referidas zonas foram formadas no final do período Pré-cambriano durante o evento do collage continental, ou seja, agregação de pequenos continentes, que resultou o Supercontinente West-Gondwana.
Em nossa região podemos encontrar dois tipos de rochas de granito. O granito vermelho que têm esta coloração devido ao feldspato alcalino (60%), e composta também de 35% de quartzo e pequena quantidade de biotita e outros minerais, e que tem grande valor comercial. E o granito amêndoa (sienogranito) que é destacado por fenocristais de feldspato potássio de cor de rosa, com menor valor comercial e muito explorado através de folhetos e paralelepípedos que são utilizados em calçamentos, muros de arrimo, etc.
Infelizmente a atividade de mineração irregular e os comprometimentos sócio-ambientais decorrentes da extração e comercialização do granito em uma área localizada entre as margens do Ribeirão Piraí, que divide os municípios de Itu e Cabreúva e áreas isoladas no Bairro Pedregulho vem aumentando, como podemos ver através do programa Google Earth. É comum vermos carregamentos de folhetos e paralelepípedos de rocha sendo transportadas nessa região. Por estar proibida a sua extração clandestina, os carregamentos estão sendo escoados por estradas de terra que ligam os municípios de Itu, Indaiatuba, Salto e Itupeva, uma vez que todo carregamento que passa pela rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto tem ordem de apreensão pela Policia Rodoviária.
Para solucionar o problema há duas hipóteses: a primeira, mais drástica, seria a proibição total da atividade e torná-la um crime ambiental, apreendendo todo carregamento e responsabilizando todos os envolvidos pela agressão; a segunda, mais adequada e acolhida por estudos, seria compatibilizar os problemas através da interação harmônica entre os diversos atores legitimados. Essa integração pressupõe uma gestão do complexo mineral existente no local, para tanto é necessário que os diversos órgãos ligados à mineração, ao meio ambiente e também às prefeituras de Itu, Salto, Indaiatuba, Itupeva e Cabreúva se articulem juntamente com os extratores visando solucionar o problema. A proposta é que seja consolidado um Arranjo Produtivo Local (APL) de Base Mineral, capaz de estruturar o trabalho de tal maneira que seja garantido o desenvolvimento com bases sustentáveis para toda região, legalização do trabalho e das moradias, além da consequente e necessária melhora na qualidade de vida dos mineradores e a preservação do meio ambiente local, assim como toda riqueza que se acha em seu entorno.
Atualmente alguns pontos de extração de Rochas de Granito clandestinas (23º14'17.13"S 47º08'24.15"O), rochas com mais de 20 metros de circunferência, estão sendo eliminadas do cenário natural, deixando no local, enormes crateras além de estradas e picadas em meio a vegetação local que, com o processo de erosão e abandono estão prejudicando e interferindo diretamente em uma importante parcela da vegetação local a qual foi usada como ponto de partida para a "Teoria dos Redutos", criada, defendida e tendo como responsável o professor emérito da FFLCH/USP e professor honorário do Instituto de Estudos Avançados/USP Aziz Nacib Ab`Sáber. E que também foi fonte de inspiração para compor algumas obras da pintora modernista dos anos 20 Tarsila do Amaral, que em suas inúmeras viagens pelas Fazendas de sua família entre Capivari e Jundiaí, se deslumbrava com as formas gigantescas das rochas e com as cactáceas e vegetação local.
Como pode se constatar, toda esta região tem um valor enorme para todos nós. Não apenas material e financeiro referindo-se a comercialização das rochas, mas por todo potencial a ser explorado, turisticamente, cientificamente e historicamente.
O maior problema é que diferente da vegetação, as rochas não podem ser repostas ou recuperadas uma vez que sofrem a interferência humana. Após décadas e décadas de exploração indiscriminada, será que nossos filhos e netos terão a oportunidade de conhecer essas belezas naturais?
Luís Candido Pereira da Silva, o Cando, é ituano, praticante do Mountain Bike há mais de 15 anos. Defensor do uso da bicicleta como meio de transporte alternativo no dia-a-dia. É um dos responsáveis pela implantação do cicloturismo na Fazenda Capoava e no Camping Cabreúva, e vem desenvolvendo vários projetos para a melhoria das condições dos ciclistas em Itu.
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