Inês Trost: 10 bons motivos para consumir orgânicos

Crédito: Arquivo pessoal

Há 60 anos toda a agricultura do mundo era orgânica, até que a Revolução Verde veio alterar radicalmente a forma como se produzia alimentos. No intuito de aumentar a produtividade da terra para acabar com a fome, passou-se a usar intensivamente: doses maciças de fertilizantes que aceleram o crescimento das plantas, bem como herbicidas, fungicidas e inseticidas que eliminam o mato e os insetos; máquinas agrícolas e técnicas de gerenciamento agrícola; e sementes modificadas/híbridas, mais produtivas e adaptadas, e os organismos geneticamente modificados (transgênicos) mais resistentes a pragas.

Se houve realmente um aumento considerável na produção agrícola, por outro lado não se acabou com a fome, pois as desigualdades persistiam ou se acentuaram. Houve um processo de concentração de terras por parte de empresários rurais que privilegiam a monocultura e a substituição do homem por máquinas enquanto os pequenos agricultores passavam a depender das multinacionais produtoras de sementes e adubos, levando-os a se endividar para comprar fertilizantes caros e a deixar de lado suas práticas tradicionais de adubação natural e produção de sementes.

Com o nascimento e fortalecimento do movimento ambientalista nos anos 70-80, a produção orgânica foi ressuscitada e consegue cada vez mais adeptos devido a dez bons motivos:

1. A comida fica mais saborosa e nutritiva, pois ingredientes orgânicos são produto de uma terra saudável e rica em micro-nutrientes, ao contrário das terras fertilizadas somente com N, P e K (componentes da maioria dos adubos químicos);

2. A saúde se beneficia de uma alimentação que não contém substâncias tóxicas como pesticidas, herbicidas, fungicidas ou fertilizantes à base de derivados do petróleo, conservantes sintéticos ou organismos geneticamente modificados;

3. Futuras gerações são protegidas. Um relatório recente do Environmental Group (Grupo de Trabalho Ambiental) constatou: "Quando uma criança completa 1 ano de vida já recebeu a dose máxima de uma vida inteira de vários pesticidas que provocam câncer." As crianças são as mais vulneráveis.

4. A qualidade da água é protegida, visto que pesticidas e fertilizantes poluem rios, lagos, mares e o lençol freático;

5. O solo é protegido, pois os agricultores orgânicos usam compostos e cobertura verde para tornar o solo vivo e saudável novamente ou mantê-lo assim;

6. Você paga o verdadeiro custo da comida. Embora pareça mais caro, o alimento orgânico é o mais barato de todos, pois embute os custos sociais e ambientais, não deixando um passivo a ser pago no futuro por toda a sociedade. Um pé de alface cultivado do modo convencional custa somente R$ 0,50 porque não inclui estes custos.

7. Você estimula a sobrevivência das pequenas propriedades rurais através de uma remuneração justa para o produtor (os preços dos orgânicos tendem a ser constantes o ano todo) e preserva a saúde do pequeno agricultor que não é obrigado a manusear pesticidas;

8. Você ajuda a restaurar a biodiversidade, pois produtores orgânicos promovem ecossistemas equilibrados e culturas mistas, em vez de monoculturas, mais suscetíveis a pragas;

9. Você contribui para a redução do aquecimento global. O solo tratado com substâncias químicas emite muito CO2, gás metano e óxido nitroso, que alimentam o efeito estufa.

10. Você contribui para a economia de energia. Mais energia é consumida para produzir fertilizantes sintéticos do que para plantar e colher todas as safras.

Inês Trost é socióloga, e tem se dedicado à pesquisa das diversas esferas da sustentabilidade – do indivíduo, da sociedade e do planeta.