Opinião

Publicado: Quinta-feira, 10 de março de 2011

Rodrigo Prada: A história da Copa 2014 poderia ser outra...

Se Belém, Goiânia e Florianópolis tivessem sido escolhidas

Crédito: Arquivo Pessoal Rodrigo Prada: A história da Copa 2014 poderia ser outra...
Em alguma coisa nossos governantes erraram. Ou foi na escolha das cidades, ou na falta de prioridade em melhorar os aeroportos, portos, hotéis e, principalmente, a mobilidade entre as cidades

No dia 02 de março o Portal 2014 apontou em relatório feito por sua equipe de reportagem que, dos doze estádios escolhidos para a Copa 2014, ao menos cinco devem virar elefantes brancos.

Definitivamente, o que mais atrasa o crescimento do Brasil é a falta de planejamento. O que mais ouvimos dizer hoje é que o grande problema da Copa 2014 serão os aeroportos. De fato serão. Mas quem não sabia que esse seria o maior gargalo do país, frente ao enorme desafio de prepará-lo para o maior evento de mídia do planeta?

As obras de que precisávamos não aconteceram. Teremos os puxadinhos... E a escolha das cidades, do ponto de vista de logística, não poderia ser pior.

Certamente não escolheram Manaus por conta da sua enorme tradição no futebol. Nem Cuiabá pela sua bem-equipada estrutura hoteleira. Ou Natal, pela força da iniciativa privada, capaz de, sem recursos públicos, erguer uma arena de futebol.

Se em 31 de maio de 2009, data em que a Fifa divulgou nas Bahamas a escolha feita pela CBF e governo brasileiro das cidades escolhidas, Belém, Goiânia e Florianópolis tivessem sido anunciadas, será que o risco de elefantes brancos seria menor?

Em 2008, fui assistir a um clássico manauara no Vivaldão, entre Rio Negro e São Raimundo. Sabe qual foi o público pagante? Exatas 198 pessoas. Com uma renda de R$ 4 mil. E isso dificilmente vai mudar...

No entanto, Belém, que disputava com Manaus o direito de sediar a Copa, foi preterida, mesmo tendo Payssandú e Remo como duas das torcidas mais apaixonadas do Brasil. Sem contar o estádio do Mangueirão, que é um dos mais belos e funcionais do país.

O grande argumento para a escolha de Manaus foi o marketing da Amazônia. Agora, será que os turistas vão gostar de ver igarapés poluídos, uma bagunça urbana com trânsito caótico e todas as mazelas da cidade? Florianópolis apresentou como proposta a reforma do estádio do Figueirense, com capital privado, para sediar a Copa. No entanto, a escolhida Natal patinou até hoje para encontrar um modelo que fosse interessante para as construtoras.

Seu grande trunfo foi proximidade da cidade com a Europa. Ora pois, em altura de cruzeiro, o aeroporto de Recife, por exemplo, está a 15 minutos de vôo amais. Mas o problema maior não é na chegada dos europeus ao país, e sim o transporte entre as cidades, principalmente de aviação executiva. E Florianópolis, com potencial esportivo, estádio privado e entre Porto Alegre e Curitiba, a uma hora de vôo de São Paulo, ficou de fora... Alguém consegue explicar?

Cuiabá ter optado por construir um estádio com arquibancadas removíveis não esconde o fato de que a capital mato-grossense terá um dos maiores elefantes brancos da Copa. Afinal, serão gastos mais de R$ 500 milhões em uma arena que jamais terá um uso proporcional a tanto investimento.

Situação oposta é a de Goiânia, que já possui um estádio incrível projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e tem torcida para enchê-lo, tanto do Goiás, quanto do Vila Nova e do Atlético-GO.

Em alguma coisa nossos governantes erraram. Ou foi na escolha das cidades, ou na falta de prioridade em melhorar os aeroportos, portos, hotéis e, principalmente, a mobilidade entre as cidades.

Para aquelas que foram as escolhidas – ocupando o lugar das preteridas -, não me levem a mal, pois é carnaval.

Rodrigo Prada é jornalista, autor do estudo sobre Os Estádios Brasileiros e diretor do Portal Copa 2014.

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