Sérgio Moro e o Complexo de Órfão do Brasileiro
Por Leonardo Torres.
Jéssica Ferrari
Não era difícil saber que a sombra de Moro iria aparecer. Quanto maior a luz, maior a sombra. Sua vaidade brilhou demais nos últimos anos. As coisas não são por acaso. Parece que tal vaidade do juiz e a busca por um "herói salvador da pátria" do brasileiro criaram um casamento que acabou de entrar em crise.
Deixo qualquer argumentação de crime do juiz de lado neste artigo; afinal, não é de hoje que vemos algumas artimanhas de Moro. Vamos falar do brasileiro que o idolatrou. No fundo, todo brasileiro possui o "complexo de órfão", mais especificamente, de órfão de pai. Não é a toa que gostamos tanto de Chaves, Superman, Homem-aranha, Goku, Naruto e tantos outros órfãos.
Desde que o Brasil tornou-se o Brasil, não existiu um indivíduo sequer que fosse o “Pai da Nação”, como Lincoln, Rômulo e Remo, etc.. Não temos um mito ou um herói fundador; somos, desde sempre, órfãos. Tentaram com D. Pedro II, com Tiradentes, Getúlio, Collor, Lula, Moro e Bolsonaro. Se olharmos para a nação com viés psicológico, vamos perceber que a figura de autoridade - que no fundo, é a figura paterna - nos falta.
Muito feita pelos pais de verdade, e não os ausentes, e também muito feita por mães, tias, tios, avós, avôs, não importando o sexo ou gênero, toda sociedade precisa de uma autoridade. Autoridade é quem é respeitado por sua experiência. Isso é muito diferente de quem é autoritário. Este último é infantil, narcisista e só sabe mandar quando impõe medo e violência. O autoritarismo foi responsável pela morte de milhões no mundo.
Já a autoridade é quem inspira. Independentemente dos dois, o brasileiro tem sede da figura do pai, por isso, ele busca incessantemente o pai herói que irá salvar o Brasil do Brasil, seja ele autoridade ou autoritário. Assim o Brasil elegeu Moro como herói e, agora, Bolsonaro. O fato é que qualquer eleito nunca corresponderá às expectativas do povo, afinal, quem tem que salvar o Brasil é o próprio brasileiro.
Temos que tomar a responsabilidade em nossas mãos e não eleger quem esbravece mais ou promete que vai resolver tudo. Se continuarmos nessa de eleger o próximo herói, temos que lembrar que cada vez que um herói é eleito, dentro dele já nasce também o vilão.
Leonardo Torres tem 28 anos, é Palestrante, Professor, Doutorando em Comunicação e Cultura Midiática e Pós-graduando em Psicologia Junguiana.