Parque do Varvito: tesouro geológico em Itu completa 20 anos
Ponto turístico ganhou programação de eventos para celebrar!
Jéssica FerrariPor Jéssica Ferrari
Um amplo registro da era glacial, arquivado ao ar livre, na zona urbana de uma das mais importantes cidades do interior paulista, ITU. Este é o Parque Geológico do Varvito, um tesouro geológico precioso e raro, e ainda tão pouco conhecido e apreciado pela população mundial. Em seus mais de 44 mil metros quadrados, o sítio possui um valor inestimável para a humanidade, abrigando uma magnífica exposição da natureza, criada há mais de 280 milhões de anos. Preciosidade esta que está ao alcance de todos, e lhe convida a visitar detalhes interessantes de nossa história.
Neste 23 de julho de 2015, o Parque celebra 20 anos de história, sendo um dos principais pontos turísticos e de estudos da cidade. Para comemorar, a Prefeitura de Itu preparou uma programação especial de eventos neste mês. Confira clicando aqui!
Quem escuta falar sobre Itu e sua rica narrativa de relação com a política, economia e turismo do país, nem sempre descobre também que aqui existe este verdadeiro monumento geológico. A exposição é o maior exemplo desse tipo de rocha da América do Sul. Basta uma única visita para você se encantar com a paisagem histórica e voltar no tempo, se imaginando dentro de um grandioso lago glacial.
Seus enormes paredões, conhecidos na cidade como “lajes de Itu”, guardam ainda vestígios de um tempo em que a região sudeste da América do Sul foi coberta por um manto de gelo. Por este motivo, o local já recebeu mais de 600 mil visitas desde sua fundação, dentre estudantes, pesquisadores e famílias inteiras. E foi até retratado em uma linda aquarela do pintor ituano, Miguelzinho Dutra. Veja a reprodução da imagem!
“É o nosso atrativo turístico mais antigo, e é importante porque prova as fases da Terra. As mudanças climáticas estão lá registradas", conta o turismólogo Fábio Grizoto. Segundo ele, apesar da importância histórica do parque, muitos ituanos ainda não reconhecem este valor e o local acaba atraindo mais visitantes de fora, do que da cidade.
Para tentar reverter esse quadro, a Secretaria de Meio Ambiente vem desde 2011 buscando desenvolver ações que levem a população ao local. O espaço é utilizado atualmente para atividades culturais e socioambientais, como Dança Circular, Festa da Família Sustentável em parceria com a Secretaria da Educação, cursos de capacitação para professores e munícipes, entre outros. Neste ano, o parque também recebeu, pela primeira vez, uma Colônia de Férias para crianças com palestras e oficinas. E segundo a Secretária de Meio Ambiente, Patricia Bastos Godoy Otero, outras realizações futuras deverão auxiliar neste processo de conscientização e aproximação dos visitantes.
“É muito bom poder colaborar com um parque que, em 20 anos, encanta pela sua magnífica paisagem preservada, educa sobre a geologia do Planeta, e por fim abriga o varvito, a rocha que registra e conta para nós um pouco da passagem do tempo”, declara Patricia.
História
O Parque do Varvito foi construído em uma área de 44.346 m2 de uma antiga pedreira. A identificação de suas rochas ocorreu em 1938 e deve-se ao geólogo Othon H. Leonardos. Antes de se conhecer o valor histórico desta formação, o varvito foi por muito tempo utilizado comercialmente no calçamento e pavimentação das ruas e casas da cidade, fazendo parte também da história de desenvolvimento do município.
“Se usou o varvito para muita coisa aqui porque era fácil de tirar. No entanto, todos se questionavam sobre a formação dela", explica Grizoto.
A exploração do local modificou bastante a paisagem da pedreira, até que estudos do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) comprovaram sua importância geológica e passou a ser proibido retirar as rochas daquele local. “Aquele buraco no meio do parque não é natural, foi criado pela exploração da rocha. Naturalmente era tudo plano", conta o turismólogo.
Apesar da descoberta, muitos comerciantes continuaram retirando o varvito, mas de outras partes próximas da pedreira, na parte de fora do parque. A atividade só teve fim quando não se era mais viável, economicamente, a comercialização das rochas.
A inauguração do parque, que circunda e protege a pedreira, ocorreu em 1995. Hoje, ele é considerado um Monumento Geológico Paulista, certificado pelo Conselho Estadual de Monumentos Geológicos em novembro de 2011, e também é patrimônio tombado pelo Condephaat desde 1974.
No entanto, alguns pontos da cidade ainda guardam em seus detalhes ou estruturas provas desta época de comercialização da rocha, como a Fábrica São Luiz, Fábrica São Pedro, Casa Imperial, calçadas centrais e várias casas nos bairros Vila Esperança e Vila Rica.
O Varvito
Varvito é o nome utilizado pelos geólogos para denominar um tipo de rocha sedimentar única, formada pela sucessão repetitiva de lâminas ou camadas, cada uma delas depositada durante o intervalo de um ano. “Ito” significa rocha e “varvo” é camada. Por isso o nome Varvito, que expressa uma rocha formada em camadas.
O local fazia parte de um grande lago, que registra cerca de cinco eras glaciais. Uma delas teria acontecido há 280 milhões de anos. Sua formação traz camadas claras e escuras, umas mais finas e outras maiores, que podem ser explicadas pelo clima da época.
Segundo Grizoto, no verão a geleira descongelava, e a água que descia formava uma enxurrada jogando segmentos no fundo do lago, então tudo que era mais pesado ficava no fundo. Já no inverno criava-se uma capa de gelo em cima do lago. Então por decantação, o que era mais leve também caía. Por isso as camadas têm duas cores, uma mais clara e outra mais escura. "A parte mais clara é maior, e a escura é mais fina. E elas se alternam", conta.
E engana-se quem pensa que os vestígios da era glacial são encontrados apenas dentro do parque. Grizoto afirma que em todo o entorno desta região é possível encontrar as rochas, pois o lago era imenso e o parque era apenas a borda dele. Entre os locais está a Represa do Itaim e o lago do bairro São Camilo, que possuem varvito abaixo. As casas que rodeiam o parque também recebem sustentação das rochas, e até na Rodovia Deputado Archimedes Lammoglia se encontra o varvito.
Sabe-se que o lago em questão era imenso, mas Grizoto chama a atenção para a falta de estudos sobre a profundidade das rochas. "Ninguém sabe até onde vão essas camadas. Foram exploradas pelo homem 300, mas não se sabe a fundo até onde elas chegam", ressalta. Segundo o turismólogo, esse é um mistério que ainda teremos que descobrir.
O Parque
Em todos os pontos do parque existem painéis explicativos que tornam a visita uma verdadeira aula ao ar livre. A principal atração são mesmo os paredões de varvito do anfiteatro, mas outros pontos também chamam a atenção: Praça Itareré, Trilha dos Bentônicos, Gruta Lágrima do Tempo, Bosque dos Matacões e Lago Permiano.
Há ainda quiosques, playground e espaço para exposições. Além disso, a beleza da natureza está em todo canto do parque, como nas árvores da Mata Atlântica e Serrado, nas lindas flores e nos pequenos animais que surgem por lá.
Os visitantes podem realizar visitas monitoradas, participar de palestras e oficinas com as temáticas Geologia do Estado de São Paulo: A formação do Varvito; Eras Geológicas e as mudanças climáticas do Brasil; Recuperação de áreas degradadas; Geologia; e Educação Ambiental.
Serviço:
O Parque fica na rua Parque do Varvito (1.400 metros do Centro Histórico), no bairro Parque Nossa Senhora da Candelária – Itu/SP. Seu funcionamento é das 8 às 17 horas, de terça à domingo. A entrada é gratuita.
Os agendamentos para visita monitorada podem ser feitos pelo telefone (11) 4023-1502.