Artesanato: hobby ou sobrevivência?
Conheça o trabalho de alguns artesãos de Itu.
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Por Renan Pereira
Quando falamos em artesanato, mal paramos para pensar no significado mais profundo da expressão. Afinal, a origem da palavra é muito mais antiga do que parece: os primeiros artifícios criados pelo homem eram artesanais. Mais do que um simples objeto, normalmente o produto de composição do artesão reflete cultura, além da representação de uma ideologia ou do espaço onde ele vive.
Devido a grande ascensão das novas tecnologias industriais no século XIX, o artesão passou a ser identificado como “aquele que produz artefatos para a cultura popular”, deixando de lado a antiga concepção do uso do artesanato por necessidade.
Ok leitores! concordo com vocês: deixemos as 'aulinhas' de história de lado. O que vale destacar é que a cultura artesanal está mais viva do que nunca. Em Itu, basta sairmos dar um passeio aos finais de semana para percebermos isso. A Praça da Matriz, local onde acontece a famosa feira de artesanato da cidade, está sempre cheia de gente. Os artesãos produzem, vendem e fazem propaganda de seus produtos - tudo ao mesmo tempo. Junto com eles um dilema: há quem produza por sobrevivência ou simplesmente por terapia. “Encaro o artesanato como uma espécie de hobby, adoro trabalhar com isso. Por outro lado, este é um passa-tempo que ajuda a complementar a minha renda”, declara a estudante Tatiana Silveira.
A colunista do itu.com.br, Daniela Simão, concorda com este ponto de vista e reforça: “Para mim o artesanato representa um momento de terapia. Sempre que tenho um tempo livre procuro algo para fazer; seja um bordado, uma caixinha de madeira com decoupage, etc. Adoro inventar enfeites. Aniversários também são uma boa opção para dar asas à imaginação, sem contar que o presente fica bem mais pessoal e quem o recebe, adora!”, conclui. Confira a entrevista na íntegra.
Em contra-ponto, estima-se que mais de 50% dos artesãos brasileiros utilizem o artesanato como um meio de sobrevivência hoje. Em Itu, esta realidade parece não ser diferente. A maior parte dos entrevistados desta reportagem vivem somente disso. “Trabalhei por muito tempo em uma indústria, mas tive de ser afastado por problemas na coluna. A partir daí essa passou a ser a minha principal fonte de renda”, explica Maurício Zara, artesão de Sorocaba que ganha a vida nos finais de semana em Itu.
Outro exemplo deste dilema é Carmen Lúcia, moradora de Itu que trabalha há 1 ano e meio como artesã. Normalmente, Lúcia vende seus produtos aos fins de semana e os confecciona em qualquer hora do dia. “Muitas vezes eu trabalho de madrugada ou em qualquer outra hora vaga do meu dia. O importante é produzir”. Assim como Maurício Zara, ela explica que tem no artesanato o seu ganha-pão. “Não pretendo parar tão cedo. O que era uma paixão se tornou a minha principal ferramenta de sobrevivência”, diz.
Apesar das controvérsias e dos variados pontos de vista que cercam a cultura artesanal, em um ponto todos concordam: independente da função do artesanato, naturalmente ele sempre será praticado por pessoas que o amam. “Trabalhando como artesão eu conheci muitas pessoas, fiz amigos e sempre me diverti. Para fazer isso aqui tem que ter criatividade e gostar de verdade. Se não dá tudo errado”, finaliza Zara.
Tecnologia e arte
Em outra reportagem, falamos sobre a importância da Internet como fonte divulgadora da arte independente. Com o artesanato, esta realidade parece não ser diferente. A artesã ituana, Edvalda Francisco, fala sobre a sua experiência com a ferramenta. “Eu uso muito a Internet como meio de divulgação. Recentemente, postei várias fotos do meu trabalho no Orkut e uma brasileira que mora nos EUA se interessou e entrou em contato comigo. Hoje eu vendo vários artefatos para ela revender por lá”, explica.
Tatiana Silveira argumenta que apesar do benefício, este tipo de tecnologia ainda não é muito usado pelos artesãos de um modo geral. “Grande parte destas pessoas ainda estão distantes destes novos instrumentos de trabalho. Isso acontece porque a maioria dos artesão são senhores de idade. Normalmente eles não estão habituados com a tecnologia”, opina.
Artesanato e responsabilidade social
Caminhando pela feira artesanal da Matriz, descobrimos que sustentabilidade e responsabilidade social também estão ligados à rotina dos artesãos, pelo menos para Vanderlúcia Costa e seu marido. A mineira trabalha já há algum tempo na cidade de Itu e o casal desenvolve um material decorativo todo feito à base de placa de fibra de madeira de média densidade (material conhecido mundialmente pela sigla MDF), além de outros materiais reciclados.
“Nossa principal meta é desenvolver um trabalho justo e que não degrade o meio ambiente. Estamos em uma era de catástrofes e desastres naturais. Temos que levar essas preocupações adiante para construir um mundo melhor", explica ela.
Renan Pereira / Itu.com.br |